Diário do Alentejo

“O tempo é exigente e não está para aventuras”

19 de maio 2021 - 15:50

O presidente da Câmara de Ourique, Marcelo Guerreiro, faz o balanço do atual mandato, destacando a resposta dada aos munícipes “na emergência de saúde pública”, provocada pela pandemia. O autarca diz ser agora prioritário “retomar gradualmente as dinâmicas individuais e comunitárias em segurança”, realçando o que considera ser essencial: “as pessoas, as suas necessidades e um sentido comunitário forte”.

 

Texto José Serrano

 

O que se modificou no concelho de Ourique, desde a presidência camarária que iniciou em 2017?

 

Há muita coisa material que mudou, em todo o território do concelho, mas destacaria o reforço da consciência de comunidade e da importância de cada um para os resultados gerais. A pandemia condicionou as nossas dinâmicas mas reforçou a noção de pertença a uma comunidade que responde, com solidariedade e sentido de rede, aos desafios. Dois destes quatro anos estão marcados pela pandemia, o que não impediu obras que reforçam as respostas existentes: do Centro de Atividades Ocupacionais de Grandaços ao quartel dos Bombeiros Voluntários de Ourique; da eletrificação rural à requalificação do centro histórico de Ourique; a obtenção de financiamento para a realização de intervenções de requalificação da Escola EB 2,3/S de Ourique e para a construção do novo Centro de Saúde de Ourique. O ritmo nem sempre é o que queríamos – temos de superar demasiadas burocracias –, mas ter as contas em ordem, estar com o foco nas pessoas e ter condições para agarrar as oportunidades de afirmar Ourique é um caminho que percorremos e vamos reforçar.

 

Quais as “obras” que considera serem, até à data, as mais emblemáticas deste seu mandato?

 

A nossa maior obra é a resposta que demos às pessoas, na emergência de saúde pública, ao lado das instituições e da população, na prevenção e na reação às situações concretas. Há três dimensões deste mandato muito importantes: a manutenção de um amplo conjunto de apoios sociais para as crianças, os jovens, as famílias e os idosos, a par da afirmação das marcas de identidade de Ourique; o foco nas pessoas, nas respostas correntes e no desafio da covid-19; a valorização do território, quer com intervenções já realizadas no espaço público, quer com projetos em processo de concretização, nas áreas da educação, da saúde e da sustentabilidade ambiental. Ourique é hoje um município com condições para ter ambição, porque tem as contas em ordem, é credível junto dos fornecedores, dos decisores e da comunidade e está do lado da solução. É uma entidade fiável, responsável e com sentido de futuro.

 

Que objetivos, por si ambicionados para este mandato, poderão ficar por cumprir?

 

As pessoas, em Ourique, conhecem-nos, estivemos sempre ao seu lado, em todos os momentos, com um sentido de resposta ao presente e de preparação das melhores soluções para o futuro. Gostaríamos de ter ido mais longe na habitação e na dinamização da economia local – com novas zonas para instalação de novos negócios –, mas foi preciso fazer o trabalho de casa primeiro. Já alterámos o Plano Diretor Municipal  (PDM) e estamos a elaborar a Estratégia Local de Habitação. Há um trabalho que foi continuado e há um trabalho que foi iniciado e que deve prosseguir. Por isso insistimos também em projetos para o próximo quadro comunitário de apoio. Por isso batemo-nos, em Beja e em Lisboa, para ter mais e melhores condições para as nossas populações. Os projetos do quartel dos bombeiros, da escola e do centro de saúde não caem do céu. São oportunidades que surgem porque lutámos por elas, como o temos feito com quem trabalha no mundo rural e com quem transforma os nossos produtos. A nossa ambição por Ourique e pelos ouriquenses não se esgota num mandato. Quem endireitou as contas da câmara estará em melhores condições de aproveitar as oportunidades de financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência e do Portugal 2030. Temos ideias, projetos e iniciativas, vamo-nos bater por elas”.

 

Com as próximas eleições autárquicas marcadas para setembro/outubro, qual a sua principal prioridade nesta “reta final” de mandato?

 

As pessoas são a prioridade. A prioridade é retomar gradualmente as dinâmicas individuais e comunitárias em segurança e com saúde. A pandemia interrompeu dinâmicas e teve impactos sociais e económicos muito relevantes. Estivemos, estamos e estaremos atentos e atuantes. É por isso que mantemos uma proximidade aos mais vulneráveis e lançámos iniciativas de apoio às famílias, às empresas e ao comércio local, a partir do orçamento municipal, que complementam as que existiam no plano nacional. O tempo é exigente e não está para aventuras ou populismos. Podemos ter ambição e sonhar mas o foco tem de estar no essencial – as pessoas, as suas necessidades e um sentido comunitário forte.

 

Na sua perspetiva, quais os principais problemas com que o concelho de Ourique se debate?

 

São os problemas do interior e dos territórios rurais, do envelhecimento da população à geração de fatores de fixação da população, das questões de escala à valorização dos produtos locais, por via da transformação e da retenção das mais-valias. A revisão do PDM, a Estratégia Local de Habitação, os investimentos privados e a ligação da Barragem do Roxo ao Monte da Rocha são impulsos importantes para a inversão das tendências. Enquanto equilibrávamos as contas do município, nunca deixámos de responder ao essencial para as pessoas e os territórios. Agora é fácil falar, mas fazer tivemos de ser nós, desde o tempo em que tínhamos penhoras e ninguém nos vendia nada a crédito.

 

Quais os principais desafios que o presidente da Câmara de Ourique, que será eleito para o quadriénio 2021/2025, terá pela frente?

 

Se for essa a vontade dos ouriquenses, vamos voltar a erguer-nos da pandemia, retomar as dinâmicas que tínhamos em Ourique e lançar novos projetos e iniciativas na coesão social, habitação, valorização do mundo rural, dinamização económica, reforço das marcas de identidade e sustentabilidade. A pandemia colocou-nos novos desafios e à necessidade de preparar o futuro para a sustentabilidade, a transição digital e energética. O foco estará sempre nas pessoas e na proximidade às diversas expressões da nossa comunidade, sejam elas empresariais, associativas, desportivas ou culturais. Precisamos de confiança para, depois de ter as contas equilibradas, termos condições para aproveitar as oportunidades que surgirão em Portugal e em Bruxelas. No passado recente aproveitámos todas as oportunidades que pudemos, é o que vamos continuar a fazer.

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