Diário do Alentejo

“Falta uma visão de futuro para esta cidade, a nível patrimonial”

19 de maio 2021 - 12:30

Decorreram, recentemente, as eleições para os órgãos de gestão da ADPBeja para o triénio 2021/2024. O “Diário do Alentejo” falou com Florival Baiôa Monteiro, reeleito como presidente da associação.

 

Texto José Serrano

 

O que deseja, neste triénio, como presidente da ADPBeja?

 

Iremos continuar a organizar atividades como a Festa do Azulejo, a Festa das Maias conferências e exposições. Iremos continuar a editar livros, material de apoio ao turista e, provavelmente, uma revista. Está nos nossos planos a criação de uma galeria de arte e artesanato – se conseguirmos verbas. O forno da Ti Bia Gadelha irá ter a sua candidatura, para que possamos criar o centro de interpretação do pão. Iremos, também, fazer uma campanha de sócios – ser sócio da ADPBeja custa 12 euros, anuais.

 

Uma das atividades mais visíveis da ADPBeja é a Festa do Azulejo. A cidade tem sabido salvaguardar o seu espólio azulejar, este seu ‘ex-libris’?

 

Não. Beja teve os seus primeiros azulejos em 1467, com uma encomenda da infanta D. Beatriz, para o seu palácio e convento. Beja é um museu de azulejaria e nós não temos aproveitado essa realidade. Temos fachadas de azulejos em mais de 40 ruas e alguns estão a cair, sem que nada se faça. A azulejaria é a protagonista da arte portuguesa e nós ganharíamos muito se a que existe em Beja fosse devidamente preservada e divulgada.

 

Deverá o património de Beja constituir-se como protagonista de maior relevo?  

 

Em termos turísticos, o que nós podemos oferecer é património cultural: o cante, a azulejaria, a gastronomia, os contos, a talha dourada, os sítios arqueológicos, a arquitetura popular e solarenga. Tudo isto em harmonia com a fantástica luz de Beja, a calma do entardecer e um cumprimento a quem passa.

 

Que ações de defesa patrimonial gostaria de ver assumidas pelo executivo municipal que será eleito, em Beja, nas eleições autárquicas deste ano?

 

Recuperar o património do centro histórico seria a principal tarefa. É humilhante, ao fazermos visitas guiadas, ouvir os comentários sobre a degradação dos edifícios. A falta de limpeza das ruas é outro problema, ninguém gosta de uma cidade suja. Falta uma visão, de futuro, para esta cidade, a nível patrimonial. Dou um exemplo: estava planeada a reconstrução parcial do templo romano, junto à Praça da República, para que os visitantes tivessem a sensação de volumetria do templo de Augusto. O que lá está, os alicerces do templo, são muros de pedra e argamassa, com um interesse relativamente pequeno para quem quer visitar a capital do antigo Conventus Pacensis romano. O trabalho de restauro arqueológico que foi executado em Mérida [Estremadura, Espanha] fez o turismo subir em flecha. Será que as nossas vereações não têm capacidade para olhar um pouco mais longe e executar obra de dimensão? Porque minguamos em vez de crescer? Espero que a futura vereação crie condições para a participação dos jovens na vida artística e que apoie as associações. Precisamos de uma vereação dinâmica, culta, criativa, que saiba ouvir e executar, pondo a população mais amante da sua terra e Beja no mapa de Portugal.

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