Diário do Alentejo

Plano Ferroviário Nacional “esquece” o Baixo Alentejo

05 de maio 2021 - 16:20

O Governo deu esta semana o “primeiro passo” para desenhar um Plano Ferroviário Nacional. Das muitas ideias lançadas pelos vários oradores não saiu nada de relevante para o Baixo Alentejo. Ou quase nada. A redação final do documento a ser aprovado pelo Parlamento só ficará concluída dentro de um ano.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

Lisboa ficará, até 2030, a uma hora e quinze minutos de distância do Porto. A viagem de comboio até Beja – que agora demora cerca de duas horas e vinte minutos -, pode vir a ser mais rápida, se se concretizar a construção de uma terceira travessia do Tejo, que irá subtrair cerca de 30 minutos a todos os destinos do Alentejo e Algarve.

 

Quem o garantiu foi o ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, durante o lançamento do Plano Ferroviário Nacional (PFN). A metodologia, apresentada pelo coordenador do PFN, Frederico Francisco, prevê um período de auscultação – incluindo cinco sessões regionais – até julho, após o qual, e até outubro, será produzida a redação de um documento que será posto em consulta pública até ao final do ano. No primeiro trimestre de 2022 proceder-se-á à redação final e à aprovação em Conselho de Ministros.

 

Apesar de Frederico Francisco ter defendido uma rede ferroviária composta por redundâncias, no mapa que apresentou não constava, para já, a reclamada ligação de Beja à Funcheira, na Linha do Sul. Garantido ficou que a eletrificação total da rede ferroviária será uma realidade até 2025.

 

Recorde-se que o Plano Nacional de Obras Públicas (PNOP) prevê a eletrificação da linha do Sul até à Funcheira e encontra-se em estudo a possibilidade da ligação ao aeroporto de Beja. Numa entrevista recente, o presidente da CP – que não esteve presente na sessão de lançamento do PFN – criticou os encerramentos de linhas que aconteceram nas últimas décadas e que retiraram “muita redundância à rede ferroviária nacional”. Na altura, deu como exemplo o troço Beja-Funcheira, fechado desde 2012, e que permitia que a linha do Alentejo fosse uma alternativa à linha do Sul.

 

100 ANOS SEM CONSTRUÇÃO DE LINHAS

 

O secretário de Estado das Infraestruturas, Jorge Delgado, lembra que há quase 100 anos não se constrói uma linha em Portugal e, entretanto, muitas foram desativadas. Para o secretário de Estado, a abordagem na elaboração deste plano não pode ser “mimética” da abordagem para a rede rodoviária, tendo em conta que os objetivos, escala de investimentos e a sua respetiva função assim “o exigem”. Neste sentido, o plano não pode resumir-se “à definição de uma rede”, mas tem de ter em consideração uma reflexão sobre os serviços para os quais a infraestrutura vai ser utilizada. Os investimentos em causa vão ainda permitir a circulação de comboios com maior comprimento e a utilização de linhas eletrificadas e com sinalização eletrónica instalada. O programa Ferrovia 2020 inclui ainda a construção de um primeiro troço “que pode ser classificado como uma linha de alta velocidade em Portugal” – os 80 quilómetros de linha em construção entre Évora e Elvas.

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