Diário do Alentejo

“Falta de influência política leva a menos investimento”

03 de maio 2021 - 16:35

Em entrevista ao “Diário do Alentejo”, Jorge Rosa, presidente da Câmara de Mértola, refere o “caminho de desenvolvimento” iniciado há duas décadas, que tem permitido ver reconhecidas, “por todos”, a modernização e a evolução do concelho. O autarca manifesta ainda as condicionantes provocadas pela pandemia, considerando, no entanto, que nenhum objetivo essencial, inicialmente previsto para este mandato, “ficou por avançar”.

 

Texto José Serrano

 

O que se modificou no concelho de Mértola, desde a presidência camarária que iniciou em 2017?

 

Mértola tem feito um caminho de desenvolvimento, desde há cerca de duas décadas. Implementámos uma estratégia de valorização que nos tornar referência nacional, em muitas áreas, com reconhecimentos públicos e imagem internacional. De forma empenhada fomos fazendo esse caminho, sendo hoje reconhecidas, por todos, a modernização e a evolução que Mértola teve. Neste mandato, muitas iniciativas foram desenvolvidas e outras interrompidas ou impossibilitadas de ocorrer, devido à pandemia. Apesar de tudo, concretizámos alguns objetivos como o Pavilhão Expo Mértola, o projeto e a filosofia da Estação Biológica de Mértola e a Galeria da Biodiversidade. Há outros projetos em que ainda estamos a trabalhar, como sejam o Centro Ocupacional para Deficientes; o novo Centro Escolar de Mértola, que permitirá integrar todas as fases de ensino, desde a pré-escola até ao 12.º ano; a remodelação da Avenida Aureliano Mira Fernandes, que é uma das principais artérias de Mértola. Fizemos algumas obras de infraestruturação básica, como redes de águas e esgotos e respetivos órgãos de reserva e tratamento; reparámos e requalificámos parte da rede viária; remodelámos várias localidades ao nível dos arruamentos e pavimentação. Conseguimos dar um avanço final no processo da navegabilidade do Rio Guadiana, na requalificação ambiental do parque mineiro de São Domingos, já com duas das seis fases executadas, na eletrificação agrícola e rural, com cerca de 60 beneficiários já servidos e outros 20 em preparação – processos da responsabilidade ou em parceria com o Estado central. Aumentámos os apoios sociais e criámos outro tipo de apoios, em virtude da covid-19, direcionados para os particulares, para as empresas e para as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS). 

 

Quais as “obras” que considera serem, até à data, as mais emblemáticas deste seu mandato?

 

Todas as obras executadas são importantes, pois contribuem para um maior conforto e melhores condições de vida dos mertolenses – e de quem nos visita. Posso referenciar, no entanto, três obras: o Lar das 5 Freguesias, no qual, apesar de ainda não estar acabado, sinto orgulho por se ter conseguido iniciar, pelo caminho complicado que tivemos que fazer; o Pavilhão Expo Mértola, pela importância que irá ter na economia, na imagem de Mértola e nas nossas futura iniciativas; o processo de eletrificação agrícola e rural, um benefício quase obrigatório em pleno século XXI que, apesar de tudo, não provia muitos montes e explorações agrícolas – este benefício permite outra perspetiva de futuro aos mais jovens, possibilitando a modernização e a continuidade das explorações e o combate ao abandono do interior.

 

Que objetivos, por si ambicionados para este mandato, poderão ficar por cumprir?

 

Várias situações foram condicionadas, sobretudo devido à pandemia que estamos a viver há cerca de 14 meses, tempo que representa mais de um quarto do mandato. Alguns serviços encerrados, empresas com dificuldades de mão-de-obra, com paragens. A própria autarquia teve condicionamentos à atividade normal e diminuímos a produção – devido ao teletrabalho, aos horários contínuos e a outras medidas que tomámos, fossem obrigatórias ou opção. No entanto, nenhum objetivo principal ficou por cumprir, apenas foram atrasados. Gostaria de ter inaugurado como merecia o Pavilhão Expo Mértola, algumas obras de saneamentos básicos e de arruamentos que fizemos, gostaria de ter já concluída a obra da Casa Cor-de-Rosa, que será um projeto de Hammam e Casa-de-Chá. Gostava de ter mais avançado o processo da Estação Biológica e da Galeria da Biodiversidade e dos outros investimentos previstos para o Além Rio. Mas nada de essencial ficou por avançar.

 

Na sua perspetiva, quais os principais problemas com que o concelho de Mértola se debate?

 

Todos os problemas que têm os outros concelhos do interior, de baixa densidade demográfica e, logo, poucos votantes. Temos falta de influência política. Que leva a menos investimento público, menos oportunidades de emprego, menos pessoas, menos consumo e menor dinâmica empresarial. É um ciclo vicioso, no qual procuramos intervir, dentro das nossas possibilidades – e temos conseguido minimizar muito esses impactos negativos, embora sem conseguir anulá-los completamente. Enfrentamos, em toda a Península Ibérica, o problema das alterações do clima, do aumento da desertificação física, que será um problema não regional ou nacional, mas global.

 

“PRESIDENTE COM PERSPETIVA MAIS REGIONAL”

 

Quais os principais desafios que o presidente da Câmara de Mértola, que será eleito para o quadriénio 2021/2025, terá pela frente?

 

Os desafios são, tal como os tempos, evolutivos e dinâmicos, não são estáticos. Um presidente de câmara, hoje em dia, com todas as responsabilidades que tem – com as novas competências que têm passado para as autarquias e com outras que se preparam, com a filosofia que se seguirá de que as câmaras são, verdadeiramente, pequenos governos locais –, não tem vida fácil. Tem de se empenhar muito, trabalhar arduamente, concentrado nos seus objetivos e nas necessidades do seu concelho e das suas populações, e ficar integrado num coletivo regional, para ter escala e não ficar “preso” apenas aos limites concelhios. Espera-se que um presidente de câmara tenha uma perspetiva mais regional, mais aberta e estratégica, ao mesmo tempo que tem de ter capacidade de gestão, de liderança e de decisão. Em Mértola, que é um concelho grande em tudo, incluindo nas dificuldades e nas necessidades, se [o próximo presidente do município] enveredar pela continuidade – que em minha opinião é absolutamente vital – tem muitas ideias e projetos para desenvolver e executar, pois foi uma preocupação que sempre tive: no momento da saída, deixar trabalho encaminhado.

 

“O nosso foco principal, desde o último ano e que irá certamente até final do mandato, é a luta contra a covid-19, a disponibilização de ajuda às populações e às IPSS. Manteremos o foco em resolver problemas pendentes, dar um maior avanço às obras e preparar a fase pós covid. Espero que este término de mandato seja em desconfinamento final, na sequência do processo de vacinação de toda a população”.

Comentários