“A crise pandémica que estamos a viver obrigou-nos a estar fechados ou com volumes de faturação significativamente mais baixos do que em circunstâncias normais, e isso tem um impacto gigante nas contas nas empresas. Por outro lado, os mecanismos de apoio que têm chegado têm sido a conta-gotas e de difícil acesso, nomeadamente os níveis de quebras e no que diz respeito à burocratização dos formulários e dos sistemas de adesão”, refere.
O presidente do Nerbe entende que “tem havido uma diferença entre aquilo que são as expectativas das empresas face às medidas de mitigação dos impactos da crise e aquilo que tem vindo a ser as medidas que estão ao seu dispor. De uma forma geral, são precisas medidas mais robustas”.
Questionado sobre como antecipa a evolução das empresas do Baixo Alentejo nos próximos meses, Filipe Pombeiro diz ser cada vez mais difícil fazer planos, sobretudo porque não está afastada a hipótese de um novo confinamento, caso os números da pandemia de covid-19 se venham a agravar de forma significativa. “Cada vez que encerramos, a situação torna-se mais dramática para as nossas empresas. Esperamos com reservado otimismo que as coisas melhorem, com o efeito das vacinas, e que possamos voltar a ter a tão desejada normalidade que tanto esperamos”.
“NÃO É SÓ A PANDEMIA”
Maria da Fé Carvalho, coordenadora da União dos Sindicatos do Distrito de Beja, garante que o agravamento dos números do desemprego na região deve-se em grande parte à pandemia, “mas não decorrem só a pandemia”. Estes valores, assegura, refletem “um conjunto de políticas que têm sido levadas a cabo pelos sucessivos governos e que tem originado um desinvestimento no interior. Há uma desproteção dos trabalhadores, que leva a que facilmente sejam despedidos e que se verifique esta realidade na nossa região”.
Segundo Maria da Fé Carvalho, a realidade “é muito pior [do que os números oficiais]” pois “há pessoas que já terminaram o tempo de inscrição no IEFP e que não conseguiram emprego, e há outras pessoas que estão a trabalhar, mas que devido aos seus contratos precários de trabalho, quando são despedidos não lhes é permitida a inscrição nos centros de emprego”.
A coordenadora da União de Sindicatos critica ainda a forma generalizada como têm sido atribuídos pelo Governo os apoios às empresas: “Deveriam ser dados às que realmente necessitam e verificamos, a nível nacional, que existem empresa que têm grandes lucros e que estão a ser ajudadas pelo Estado, e depois existem pequenas e médias empresas a reclamar que ainda não lhes chegaram nenhuns apoios”.
“É UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE”
As consequências sociais da pandemia e o número de vítimas (casos positivos e mortes) provocado pela covid-19 nos lares de idosos são motivo de preocupação para o bispo de Beja. “Como qualquer português, tenho vivido a evolução da pandemia com uma grande preocupação, no meu caso acrescida pois, como se pode imaginar, não é nada fácil neste contexto governar a diocese”, diz D. João Marcos ao “DA”, apelando ao “cumprimento à risca” das indicações da Direção-Geral de Saúde. “As pessoas continuam a procurar-me para falarem comigo. A pandemia é uma realidade que afeta a Igreja, assim como toda a sociedade. As pessoas não esperam da Igreja a solução para a pandemia. Mas a oração que fazemos na Igreja ajuda certamente, e muito, as pessoas a enfrentarem estas dificuldades com um coração confiante”, acrescenta o bispo de Beja.
POBREZA ENVERGONHADA DEVIDO À PANDEMIA
Em tempo de pandemia de covid-19, as preocupações da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) aumentaram ao nível das sinalizações emergentes de uma nova pobreza, no que concerne ao conhecimento e à ajuda pela via da informação e encaminhamento de sinalizações. Neste período, os pedidos de ajuda formal e informal à EAPN dispararam. Uma das principais funções da rede é “o combate à pobreza e à exclusão social” e, nesse sentido, tem “vindo a realizar estudos nacionais sobre a pandemia e a pobreza relacionadas com os lares e a infância, assim como a campanha nacional as comunidades ciganas”. No entanto, a situação atual, “trouxe uma nova realidade para o país e para a região do Alentejo”.
Fruto do encerramento do comércio local, dos cafés e restaurantes e atividades culturais, “a EAPN tem detetado situações, mas que são difíceis de quantificar, por se tratar de pobreza envergonhada. São pessoas que nunca estiveram em circunstâncias semelhantes e que, efetivamente, hoje, estão a passar dificuldades”, explica João Martins, responsável do Núcleo de Beja da Rede Europeia Anti Pobreza. “As situações mais gritantes”, diz “são aquelas em que as pessoas do mesmo agregado familiar trabalham no mesmo negócio, e que infelizmente teve de fechar portas. O mundo cai-lhes em cima de um momento para o outro”.
Manuel Guerreiro, 35 anos foi despedido em janeiro deste ano, “uns dias depois de ter começado o confinamento”. O tratorista residente numa pequena aldeia do concelho de Beja diz ter ficado sem trabalho sem “qualquer explicação” por parte da empresa: “Quando fui trabalhar no dia 15 de janeiro disseram-me para ficar uns dias em casa e que depois me diziam alguma coisa”. Na escassez de repostas por parte da entidade patronal, pediu explicações. “Disseram-me que, por agora, não precisavam de mim e que os tempos estavam complicados. Era preciso reduzir os custos. Começou o confinamento e vim para o ‘olho’ da rua”, lamenta Manuel Guerreiro, acreditando que com o retomar da atividade económica possa “voltar a ser chamado ou conseguir outro emprego”.
Outro caso é o de Joana Afonso, 20 anos, com o 12.º ano de escolaridade concluído em setembro do ano passado. Desde então tem batido a várias portas, “mas tem estado quase tudo fechado”, e por isso, “nem entregar currículos” tem sido possível. “Foi uma péssima altura para acabar os estudos, mas vamos ver, pode ser que agora consiga alguma coisa, nem que seja a meio tempo. Estou disposta a trabalhar em qualquer coisa, preciso é de encontrar emprego”, garante.