Francisca Bicho, professora de História
A 6 de março de 2021 passaram 100 anos sobre a criação do Partido Comunista Português (1921-2021), e a longa história de vida deste Partido justifica em absoluto que aqui se evoque essa data bem como o papel desempenhado pelo mesmo, em particular na resistência e luta contra a ditadura de Salazar e Caetano que, entre outros fatores, contribuiu em muito para a sua queda em 25 de Abril de 1974 e implementação da democracia, que permite hoje a muitos a atitude de procurar esquecer o que foi essa resistência.
O espaço destas linhas não permite, obviamente, uma análise da contextualização em que surgiu o PCP, nem dos anos de clandestinidade e luta, mas sendo que a sua história é feita de muitos homens e mulheres que resistiram, permitimo-nos lembrar João Honrado.
Antes de abordarmos João Honrado, propomo-nos, contudo, algumas considerações, e em primeiro lugar, seguindo Miguel Urbano Rodrigues (jornal “o diário”, 24/9/84) a propósito de Joaquim Pires Jorge e o humanismo comunista, destacamos: “Num partido como o PCP, a entrega plena à luta produz no encadeamento das gerações muitos heróis, muita gente incomum pelo distanciamento da pequena trivialidade que mediocriza, pela coragem, pelo talento, pela abnegação, pela inteligência, pela criatividade”. É nessa linha que César Oliveira (1975, p.10) homenageava “todos os militantes do Partido Comunista que encontraram a morte às mãos dos esbirros assassinos da polícia política” e de entre eles distinguiu “os mortos do Tarrafal (em particular) Bento Gonçalves”, que a partir de 1929 reorganizou o PCP.
Ora, acabamos de nos referir a dois importantes nomes, e tantos outros teremos de omitir, mas, se nos situarmos à data do primeiro Congresso do PCP (1923) destacamos alguns nomes de Beja. Com efeito, na 1.ª sessão secretariou, entre outros, José Santos Chicharro, da Comuna de Beja, e houve saudações de Francisco António Moreno, de Beja, enquanto na 4.ª sessão foi eleito para a Comissão Central do Partido Manuel Martins, de Beja, com 63 votos (Oliveira, 1975.pp. 47; 74).
Sobre Manuel António Martins (1890-1930), o Manuel Baleizão devido à sua naturalidade, deu João Honrado o devido destaque no jornal “O Alentejo Popular” (Beja, 20/4/2006), socorrendo-se dos dados já referidos, com base na obra de César Oliveira, e dando a palavra ao filho António Pina Martins.
Passemos então a evocar João Honrado (Ferreira do Alentejo, 3/3/1929; Beja, 2/3/2013): - Aquele Homem alto e forte que transmitia força, mesmo na fase de maior fragilidade e a caminho do fim; - O João era aquele Homem de “coração de mel”, nas palavras do poema de Eduardo Olímpio; - O João era aquele Homem que se tratava por tu, com todo o respeito.
Os caminhos da memória conduzem-me ao João como se o tivesse conhecido desde sempre, o que não é verdade; conheci-o desde os tempos gloriosos de sonho e ação que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, e após ter iniciado a minha atividade de professora, em Beja, janeiro de 1975.
Antes do 25 de Abril de 1974, o João andava por aí (como tantos outros), nas prisões ou na clandestinidade, a lutar por todos nós, a resistir e a enfrentar com verticalidade tudo o que representava o Estado Novo, o Salazarismo, a PIDE … procurando vencer nas cadeias ou no julgamento em tribunal, estava lá com a força da convicção e como membro do Partido Comunista Português.
Num texto extraordinário “O Meu Tio João”, a sobrinha Rosa conduz-nos ao percurso de João Honrado desde que com 18 anos foi preso pela primeira vez (Calado, 2014, pp. 7-8). Elaborámos sobre o mesmo como que uma tábua cronológica que facilitará a leitura, e que apresentamos.