“O plano de emprego não consiste numa resposta, mas sim na definição da estratégia para a resolução da situação de desemprego negociada com a pessoa desempregada”, acrescenta o delegado regional do IEFP, revelando que o ano passado “registaram-se 272 colocações de desempregados licenciados na região, o que equivale a 7,3 por cento do total das colocações efetuadas”.
“O Alentejo é uma região onde os investimentos em determinados setores se têm destacado, tais como a indústria aeronáutica, vários projetos na área das TIC e agricultura, que beneficiou dos novos blocos de rega da barragem do Alqueva e das novas tecnologias”, lembra Arnaldo Frade, considerando que a “rápida” evolução tecnológica e digital em curso e as suas implicações no mercado de emprego regional, “constituem mais um grande desafio para a região e para o serviço público de emprego”.
Com a pandemia, multiplicaram-se os casos de pessoas que se instalaram em territórios do interior, deixando as grandes cidades. “O mundo do trabalho tem vindo a mudar e, por via da revolução tecnológica, a mudança tem sido muito rápida. Neste momento, é ainda difícil imaginar como será num futuro muito próximo, mas é seguro que terá fortes implicações no conhecimento, nas competências, na formação, nas profissões e no mercado de trabalho em geral”, conclui Arnaldo Frade.
DIFICULDADES DE QUEM CHEGA AO MERCADO DE TRABALHO
Rita Gonçalves tem 36 anos e é licenciada em Sociologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Inês Ricardo tem a mesma idade, é licenciada em Desporto, Atividade Física e Lazer, pela Escola Superior de Educação, do Instituto Politécnico de Beja. Olinda Guerreiro tem 35 anos, é licenciada e mestre em Engenharia Alimentar, pela Escola Superior Agrária, do Instituto Politécnico de Beja, e doutorada em Ciências Veterinárias, na especialidade de Produção Animal, pela Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa. Três alentejanas que têm em comum o grau académico e a proximidade etária, mas que conheceram percursos distintos no universo laboral.
Volvido um ano sobre o regresso ao Alentejo, e depois de vários currículos enviados e entrevistas realizadas, Rita Gonçalves optou por trabalhos temporários. Inicialmente como comunicadora no ‘call center’ da Portugal Telecom e depois como assistente de um consultório médico. Entretanto, surgiu a oportunidade de trabalhar na área da formação profissional, no IEFP, como formadora de Cidadania e Empregabilidade. Posteriormente iniciou funções como assistente administrativa num grupo empresarial que opera no setor alimentar, onde se mantém até hoje.
Sobre o desajuste entre o que faz e o que poderia fazer em função das competências académicas adquiridas, Rita Gonçalves avança vários fatores justificativos: “A exigência do mercado de trabalho na demanda de experiência profissional, a inexperiência e a imaturidade. Na minha opinião existe um desfasamento entre o que é ensinado no ensino superior e o que é exigido no mercado de trabalho. A componente prática e as competências comportamentais e sociais são cada vez mais valorizadas, matérias pouco desenvolvidas no ensino”.
Atualmente, concilia a sua atividade profissional com os estudos. Voltou à escola, ingressou no curso de Gestão de Empresas, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão, do IPBeja. “Espero, através desta formação, obter as ferramentas necessárias para vir a desenvolver, num futuro próximo, uma atividade profissional mais de acordo com o meu perfil académico”.
Depois de terminar o curso, em 2007, Inês Ricardo começou a trabalhar num ginásio em Beja, e pouco tempo depois surgiu-lhe a oportunidade de integrar um novo projeto na mesma área. “Foi aqui que fiz o meu estágio profissional e onde fiquei a trabalhar até 2009, altura em que fui para Sines e comecei a colaborar numa cadeia de ginásios. Em setembro desse ano desenvolvi uma atividade para a Câmara de Sines, e como uma das técnicas pediu um ano de licença sem vencimento, recebi a proposta para trabalhar no departamento de desporto, assumindo várias funções. Infelizmente não houve possibilidade de continuar lá. A partir daqui nunca mais trabalhei a tempo inteiro naquela que foi a minha área de formação, e tive de agarrar outras oportunidades de trabalho”.
Dessas oportunidades que Inês Ricardo agarrou, a última foi na área da animação/restauração, num ‘pub’ da cidade de Beja. Depois veio a pandemia, veio o agudizar da crise no setor e, com ela, a perda do posto de trabalho e a inscrição no centro de emprego. Foi através desta contingência laboral, que acabou ingressando num curso profissional de Técnico Auxiliar de Farmácia. “Estou a gostar bastante da formação, pois está a ser muito desafiante e interessante, tanto a nível profissional, pelos conhecimentos que estamos a adquirir para futuramente podermos ser bons profissionais na área, como pela parte pessoal, que nos traz mais sabedoria e autonomia no nosso dia-a-dia. Neste momento, o meu foco e empenho é terminar o curso, tirar dele o melhor proveito possível, e que num futuro próximo me surjam oportunidades de trabalho”, conclui.
Ao contrário de Rita e Inês, Olinda Guerreiro tem todo o seu percurso profissional ligado à área de estudo académico e ao Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Alentejo (Cebal), instituição onde começou a colaborar ainda durante a licenciatura, efetuando o estágio final de curso, em 2008, e um estágio profissional, através do qual deu continuidade ao trabalho já iniciado. Seguiu-se o mestrado e o doutoramento, e a atribuição de uma bolsa pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Neste momento, trabalha na área da transferência de tecnologia e conhecimento científico, mais concretamente na valorização de subprodutos agroindustriais para aplicação na alimentação animal, em que se pretende fazer a interação entre a ciência e o tecido produtivo da região.
Olinda Guerreiro acredita que a região “tem potencial e capacidade” para atrair recursos humanos altamente qualificados. “Ainda há algum trabalho a fazer, mas julgo que estamos no bom caminho. Há que conseguir ultrapassar o problema da desertificação do interior, mas têm surgido novos negócios nos últimos anos, principalmente, ligados à agricultura, para além das novas entidades ligadas ao sistema científico e tecnológico, como o Cebal, por exemplo, que tem ajudado a atrair e a fixar mais pessoas com formação académica na região. Em suma, acho que há um esforço crescente no sentido de tornar o Alentejo mais atrativo, mais sustentável, mais competitivo, mostrando o seu potencial e demonstrando que é possível viver no Alentejo com qualidade de vida”, conclui.