Diário do Alentejo

“Divertida e provocante”, eis a Magg Page

15 de março 2021 - 16:15

“Divertida e provocante, arrojada e descontraída, mas nunca séria e aborrecida”, assim se apresenta Magg Page, uma marca de roupa jovem, ‘handmade’ e sustentável, criada pela jovem alentejana Margarida Marques. A criação de peças únicas, através da combinação de técnicas tradicionais e inovação, é mote para a diferenciação de um projeto que se propõe fazer moda de forma consciente, minimizando, tanto quanto possível, o impacto ambiental.

 

Texto Rita Palma Nascimento

 

Para Margarida Marques, de 25 anos, natural de Cuba, a moda “é liberdade”. Aos três anos de idade era sua a convicção de que, quando fosse grande, iria viver em Paris, ser cantora e estilista. O desejo de viver em Paris acabou por desaparecer, mas a paixão pela música e pela moda permaneceram. “Sempre soube o que queria fazer. Com três anos, adorava as Spice Girls, ficava fascinada com as roupas e procurava cantar e vestir-me como elas. A moda e a música sempre estiveram de mãos dadas na minha vida”.

 

Com a irmã criou as primeiras peças de vestuário para as bonecas Barbie, com pedaços de renda e restos de tecido que cosiam à mão. “Era giro”. Mais tarde, por volta dos 13 ou 14 anos, foi o rock dos anos 60 e 70 quem a influenciou nas suas criações. Figuras como David Bowie, Jimi Hendrix, Janis Joplin e Led Zeppelin, até Blondie, Sex Pistols ou The Clash despertaram em Margarida Marques a vontade de recriar os seus ‘looks’. “Ainda hoje o faço, mas em doses mais moderadas e com o meu cunho pessoal, são as minhas influências musicais. Foi através dos Sex Pistols que descobri uma das minhas ‘designers’ de moda favoritas, Vivienne Westwood, responsável pela criação do estilo ‘punk’ e ‘new wave’. É por ela que acredito nesta indústria”.

 

Embora com uma palavra a dizer, e crente na certeza de que as oportunidades se criam, Margarida Marques procura ainda perceber se existe lugar para si no mundo da moda. “Acredito que tudo o que fazemos deve ser feito com paixão e não apenas porque é vendável ou facilmente consumível. É fundamental que sejamos fiéis a nós próprios. Embora possa parecer um ‘clichê’, isto tem a sua verdade. Vejo a minha marca como um espaço de liberdade em que posso criar tudo aquilo que imaginar: divertida e provocante, arrojada e descontraída, mas nunca séria e aborrecida. E com referências ‘punk’ e ‘grunge’, enquanto influências pessoais”, mas sempre de mãos dadas com a sustentabilidade, a consciência e a transparência no processo.

 

Segundo a estilista, “é cada vez mais importante olhar e cuidar do mundo onde vivemos”. Sobre num setor, como a indústria da moda, que é o segundo mais poluente do globo, sendo que as marcas pronto-a-vestir têm grandes responsabilidades nisso. “As pessoas que trabalham na confeção das peças de vestuário destas marcas são, muitas vezes, exploradas, ou não beneficiam das devidas condições de trabalho. Isto também determina a insustentabilidade de uma indústria. O meu desejo é conseguir fazer moda, mas de forma consciente, com o menor impacto ambiental possível. Para isso é importante procurar que os materiais sejam de fibras naturais, de origem sustentável, que nunca foram vendidos ou usados pelos consumidores, ou reutilizar materiais descartados”.

 

O que diferencia a Magg Page, é procurar “que cada peça seja reproduzida em quantidades pequenas - ou até únicas - pondo em prática o conceito de ‘slow movement’, um processo de criação mais lento para cada produto”. A colaboração com artesãos locais permite preservar as técnicas tradicionais de confeção e aliá-las à inovação. “Os meus principais clientes são jovens-adultas, mais irreverentes, sem medo de arriscar e que gostam de marcar pela diferença. Pessoalmente não coloco rótulos, não olho a género nem a idade, trabalho no sentido de criar aquilo que acredito que qualquer pessoa vestir, desde que se sinta confiante”. Espera, assim, através do seu projeto, “quebrar tabus e preconceitos enraizados na sociedade”.

 

PROCESSO CRIATIVO

 

Margarida Marques explica que o seu processo criativo é demorado e que conta com a colaboração do “primo Chico”, sapateiro de Cuba, sempre que é necessário incorporar molas ou ilhoses. O primeiro passo é a realização de um esboço simples, a lápis, que depois passa para o computador, onde desenvolve o desenho técnico. Estuda as cores e padrões que melhor definam a peça e dá início aos moldes, seguindo-se o protótipo. “Se ficar tudo conforme desejado, copio todos os componentes da peça para o tecido final. Tudo isto requer horas e horas de trabalho, por vezes dias, pelo que nem todas as peças são acessíveis a todas as carteiras. Considero verdadeiramente importante que o trabalho manual seja pago de forma justa”.

 

Quanto ao futuro, a jovem empreendedora fala-nos da vontade de, a curto ou médio prazo, abrir um ‘atelier’ onde cada cliente possa ser atendido de forma personalizada e tenha acesso a todo o processo de criação das peças. Conta empregar costureiras ou costureiros, modelistas, gestores de redes sociais e de contacto. A realização de parcerias e colaborações com outros profissionais é também uma possibilidade. O objetivo está traçado: “Expandir negócios, explorar técnicas e partilhar ideias, no sentido de desenvolver peças de vestuário e acessórios que unam diferentes equipas, sejam únicas e criativas. Onde é que me vejo a chegar? Há quem diga que o céu é o limite. Vamos ver, só o tempo dirá”.

 

“CAMINHO DE INCERTEZAS”  

 

Ser jovem empresária, assegura Margarida Marques, “não é nada fácil”. É, pelo contrário, um caminho complicado e com muitas incertezas”. Regressou a Cuba depois da conclusão dos estudos porque sentiu que só na sua terra natal faria sentido desenvolver o sonho de criar e comercializar moda: “É aqui que tenho as raízes, as pessoas e as técnicas tradicionais com que quero trabalhar”. Por enquanto, gere sozinha todo o projeto, desde os moldes e costuras à criação e gestão da página de Internet, ‘marketing’, envio de encomendas e contactos. “É um projeto bastante recente, ainda não consigo ter rendimento para criar postos de trabalho”.

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