Diário do Alentejo

“Governo tem de olhar de outra forma para as especificidades do interior”

15 de março 2021 - 09:25

Entrevista a João Serranito Nunes, presidente da Câmara Municipal de Barrancos

 

Em entrevista ao “Diário do Alentejo”, João Serranito Nunes, presidente da Câmara Municipal de Barrancos, faz o balanço do atual mandato, realçando o combate à pandemia como a principal prioridade atual do executivo, no intuito de minimizar os seus efeitos “ao nível das famílias, das empresas e das instituições que estão na linha da frente”.

 

Texto José Serrano

 

O que se modificou no concelho de Barrancos, desde a presidência camarária que iniciou em 2017?

Neste mandato concretizámos grande parte dos objetivos traçados e procurámos preparar as bases para o futuro do concelho, definindo prioridades e objetivos estruturais. É notória uma nova estratégia de atuação municipal, assente na visão integrada do território, no reforço da identidade local e dos fatores diferenciadores da região, na promoção do concelho, em termos turísticos, e na criação de ambientes favoráveis ao investimento. Internamente, temos vindo a “arrumar a casa”. Imprimimos maior rigor e responsabilidade na aplicação dos dinheiros públicos. Procurámos simplificar a burocratização excessiva dos próprios serviços internos. Investimos na área de informática/novas tecnologias, para modernizar os serviços e adaptar-nos à realidade. Dotámos o município de quadros técnicos, em áreas essenciais. Criámos o Gabinete de Apoio ao Empresário. Recuperámos muito do património municipal. Substituímos parte da frota municipal, para colmatar as falhas mais acentuadas. Trabalhámos de forma a atrair investidores. Buscámos alternativas à criação de emprego para a população. Um enorme trabalho de bastidores que tem sido feito com a preocupação de criar condições para que, amanhã, os barranquenhos possam colher os frutos, em diversas áreas e setores. 

 

Quais as “obras” que considera serem, até à data, as mais emblemáticas deste seu mandato?

Ao iniciar funções, ficou clara a necessidade de reparar o património municipal. Herdámos um edifício inacabado e abandonado que, através de uma candidatura a fundos comunitários, reabilitámos e irá albergar a incubadora de empresas, uma infraestrutura de acolhimento empresarial. O edifício dos Paços do Concelho apresentava sinais evidentes de falta de conservação. Estamos a concluir as obras, financiadas ao abrigo do Programa BEM. A construção de uma nova casa mortuária, obra já iniciada, que foi, durante décadas, uma promessa por cumprir. A reabilitação de uma casa senhorial para acolher a biblioteca municipal e o Centro Interpretativo do Barranquenho. Em fase de projeto está a reabilitação da Casa do Moleiro, na zona da Pipa. As obras de recuperação do Castelo de Noudar, que permitirão recuperar, numa primeira fase, o torreão nascente. A asfaltagem de estradas municipais e ruas da vila são já uma realidade. Intervimos na estrada que liga Barrancos a Espanha; no acesso ao Bairro da Rua de Angola; no acesso à Serra Colorada; na ponte sobre o rio Múrtiga e no caminho municipal 1023. Estão previstas mais algumas ruas, para completar o objetivo.

 

Que objetivos, por si ambicionados para este mandato, poderão ficar por cumprir?

A má qualidade das acessibilidades e a falta de apoios à fixação de pequenas e médias empresas, constrangimentos que temos vindo a reivindicar junto do Governo. A instalação de empresas, trabalho que tem sido extremamente prejudicado pela pandemia. Existem projetos em cima da mesa, um deles na área da saúde, que terão de esperar, até haver condições para novos desenvolvimentos. A grave situação de desemprego que encontrámos no início do mandato, seguida da pandemia, vieram alterar alguns dos objetivos do executivo. Como as pessoas estão primeiro, temos vindo a deslocar uma grande parte das verbas para a área social. Destaco a parceria com o Instituto do Emprego e Formação Profissional, na criação de um projeto que permitiu apoiar cerca de 100 pessoas e o programa de emergência social que criámos, no intuito de minimizar os efeitos da pandemia, ao nível das famílias, das empresas e das instituições que estão na linha da frente. As obras que gostaríamos de ver concluídas, ou ainda iniciar, são equipamentos necessários ao concelho, como as piscinas cobertas, a requalificação do parque de campismo, a recuperação da cobertura do cineteatro e o seu apetrechamento com equipamento atual, a criação do picadeiro municipal, o Centro Operacional de Proteção Civil, a instalação do arquivo histórico e do Espaço do Munícipe, a adaptação do posto de turismo às exigências atuais.

 

Na sua perspetiva, quais os principais problemas com que o concelho de Barrancos se debate?

“Os principais problemas são comuns a todos os concelhos do interior do país: o envelhecimento da população, o reduzido tecido empresarial, as más acessibilidades e a carência de médicos. Daí decorrem todos os outros. Só com estas questões de fundo resolvidas se poderá aspirar à estabilidade e à melhoria de qualidade de vida dos munícipes.

 

Quais os principais desafios que o presidente da Câmara de Barrancos, que será eleito para o quadriénio 2021/2025, terá pela frente?

Os próximos anos serão, igualmente, de muito trabalho, no apoio às pessoas, na facilitação de condições para a instalação de jovens empreendedores, na procura de empresas, no investimento em infraestruturas... Será necessário continuar a pressionar a Administração Central para olhar de outra forma para as especificidades do interior. Há projetos iniciados que vão continuar no próximo mandato: 2.ª e 4.ª fases da regeneração urbana; a Estratégia Local de Habitação, que estamos a concluir e que trará novas oportunidades na área da habitação social; a revisão do Plano Diretor Municipal e de todos os instrumentos de ordenamento do território do concelho; a Carta do Património do concelho; o Plano de Gestão Florestal. É ainda necessário continuar a investir na melhoria do serviço ao munícipe e na conservação do património municipal.

 

“PRIORIDADE É O COMBATE À PANDEMIA”

 

Com as próximas eleições autárquicas marcadas para setembro/outubro, qual a sua principal prioridade nesta “reta final” de mandato?

A principal preocupação é o combate à pandemia. Mas vamos continuar as intervenções propostas. Para além das referidas, vamos iniciar a requalificação de algumas ruas (2.ª fase da regeneração urbana), o arranjo dos caminhos rurais, a alteração ao regulamento do trânsito. Está em curso a reabertura da exploração da pedreira de xisto, vamos apresentar o plano de exploração e recuperação paisagística, com vista ao seu licenciamento.

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