Diário do Alentejo

“Chumbo” do Montijo mantém opção Beja em aberto

12 de março 2021 - 17:25

O chumbo da opção Montijo para a construção do novo aeroporto de Lisboa veio dar mais uma oportunidade para se avaliarem outras alternativas. Mas para o Governo, para além da atual Base Aérea 6, só o Campo de Tiro de Alcochete satisfaz. No entanto, na última semana, a opção por Beja tem sido referida diversas vezes e com análises e argumentos novos, até resultantes da pandemia global.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

A previsível mudança de paradigma do tráfego aéreo no período pós-pandemia pode ser um trunfo para a solução Beja no que diz respeito à localização do novo aeroporto. Uma tese académica orientada por Joanaz de Melo e Eduardo Zúquete, desenvolvida na Universidade Nova de Lisboa (UNL), questiona a necessidade de um “hub” nacional e recomenda alguma cautela na abordagem ao novo aeroporto.

 

Citados pelo jornal “Público” os catedráticos preveem que os voos até 600 quilómetros correm o risco de ser substituídos pela ferrovia – aposta da União Europeia para as próximas décadas – e perspetivam que as deslocações de médio curso possam ocorrer no aeroporto Humberto Delgado e as de longo curso em Beja. A concretizar-se este cenário, configura-se também necessária a abertura da pista de Monte Real à aviação civil para servir o mercado do Oeste e do Centro, do país nomeadamente, Leiria, Fátima e Coimbra.

 

No passado dia 4, durante a 9.ª Conferência “Portugal Que Faz”, promovida pela Novo Banco, em Évora, Filipe Pombeiro, presidente do Núcleo Empresarial da Região de Beja (Nerbe), voltou a referir que a pista alentejana é uma boa opção para revitalizar o Alentejo. “O aeroporto de Beja pode ser um aeroporto de resiliência a Lisboa e a Faro. Depois, só as dinâmicas de tráfego dirão se será possível ser uma alternativa. Mas não o será sem haver políticas públicas de incentivo”, disse o presidente do Nerbe, relembrando que “com uma boa ferrovia e uma boa rodovia, numa hora estamos em Lisboa”.

 

No mesmo sentido se manifestou a consultora Firma, de Bernardo Theotónio-Pereira e Bernardo Pires de Lima – este último recentemente nomeado por Marcelo Rebelo de Sousa como consultor da área estratégica e prospetiva junto da Presidência da República. A consultora, que desenvolve estratégias de apoio ao tecido empresarial e institucional com a preocupação de proporcionar retorno para a sociedade, tem uma equipa liderada por Pedro Spohr a estudar o combate à desertificação dos territórios do interior e a ineficiente utilização dos recursos existentes.

 

Foi neste âmbito que Bernardo Theotónio-Pereira revelou que surgiu como solução o “aeroporto Portugal Sul [em Beja] com a criação da ligação ferroviária de alta velocidade a Lisboa”, acrescentando que esta proposta se enquadra na visão de António Costa e Silva, autor do Programa de Recuperação e Resilência (PRR) encomendado pelo Governo.

 

De acordo com o estudo efetuado pela Firma, esta solução permitiria “potenciar a infraestrutura existente, reocupar o território, garantir a coesão territorial e aproximar Portugal das regiões próximas da Extremadura e Andaluzia e do mercado europeu” através de ferrovia de alta velocidade, de forma a atrair indústria nacional e internacional e abrir portas, através do Porto de Sines, aos mercados do continente americano.

 

CHUMBO

 

Recorde-se que a Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) recusou-se a apreciar a viabilidade da construção do aeroporto complementar à Portela com base na lei que prevê a necessidade da aprovação por parte de todos os municípios abrangidos, o que, no caso, não aconteceu. Moita e Seixal deram parecer negativo ao empreendimento.

 

O Governo decidiu avançar com a realização de um processo de Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) para comparar três soluções: aeroporto Humberto Delgado como aeroporto principal e Montijo como complementar; Montijo como principal e Portela como complementar; ou um novo aeroporto a construir no Campo de Tiro de Alcochete.

 

Ao mesmo tempo, o Ministério das Infraestruturas anunciou a intenção de rever o decreto-lei n.º 186/2007, de 10 de maio, para eliminar o poder de veto das autarquias locais quando está em causa o desenvolvimento de projetos de interesse nacional. Esta iniciativa legislativa tem o apoio do PSD e CDS, mas a oposição dos partidos à esquerda do PS (PCP, BE e Verdes) e do PAN.

 

Em setembro do ano passado, a ministra da Coesão Territorial defendeu que “não podemos ter um aeroporto como o de Beja sem o valorizar”. Numa entrevista à Antena 1, em que fez estas declarações, Ana Abrunhosa referiu o “potencial extraordinário” da infraestrutura alentejana e a necessidade de cumprir “as promessas feitas aos habitantes da região”, nomeadamente com a conclusão das acessibilidades, quer ferroviárias, quer rodoviárias.

 

O Aeroporto de Beja foi inaugurado há uma década com investimento de cerca 30 milhões de euros. Tem sido utilizado como base de estacionamento e limpeza de aeronaves e como alternativa a voos comerciais quando faltam ‘slot’s na placa da Portela. Benfica e Sporting também utilizaram Beja em viagens durante a pré-época. É a única infraestrutura aeroportuária com capacidade para receber o A380, o maior avião de passageiros do mundo. Em 2018 foi o porto de abrigo para um avião da companhia Astana que tinha levantado das Oficinas Gerais de Manutenção Aeronáutica (OGMA), em Alverca, com deficiências que impossibilitavam um voo em segurança.

 

CENTRO LOGÍSTICO DA HI FLY EM BEJA

 

A MESA, empresa do universo da Hi Fly, anunciou que vai instalar o seu centro de logística em Beja. O presidente da Câmara, Paulo Arsénio, anunciou o acordo e revelou que, agora, é necessário reunir condições” para “encontrar uma solução” para a construção deste equipamento que terá cerca de seis mil metros quadrados. Recorde-se que no início do ano a Mesa inaugurou um hangar no terminal civil do aeroporto para a manutenção de aeronaves, num investimento de 30 milhões de euros.

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