Diário do Alentejo

Luís Trigacheiro: “A vitória foi uma sensação incrível”

09 de janeiro 2021 - 00:00

Começou a cantar desde miúdo, participou em diversos projetos de Cante alentejano, como “Os Bubedanas”, integrou a formação inicial de “Os Vocalistas” e, aos 23 anos, ganhou o concurso de talentos da RTP. O sonho de Luís Trigacheiro é fazer uma carreira a solo. Até lá, diz que o importante é “viver um dia de cada vez”.

 

Texto Marta Louro

 

“A vitória foi uma sensação incrível e inesperada”, diz o músico ao “Diário do Alentejo”. Na final, que decorreu no passado domingo, dia 3 de janeiro, cantou “Sol de Inverno”, ao lado de Simone de Oliveira “Foi uma grande responsabilidade partilhar o palco com um ícone da música portuguesa. Mas correu bem”. O seu percurso no pograma televisivo começou por ser traçado na equipa do “conterrâneo”, António Zambujo, mas acabou por ser Marisa Liz [um dos membros dos júri, vocalista dos “Amor Electro”] que lhe “abriu as portas” para a final.

 

Ao “DA”, diz que a sua forma peculiar de cantar, de olhos fechados, é sua “maneira de sentir a letra e conseguir visualizar os acontecimentos da própria música. Não é para transparecer sentimento, é a minha maneira de cantar, mas claro, que se for num contexto mais alegre e de convívio canto de olhos abertos. Depende da música e do ambiente”.

 

As suas referências musicais cruzam vários estilos, de António Zambujo a Frank Sinatra, de João Gilberto a Amália Rodrigues, entre outros. Sendo a música a “grande paixão” da sua vida, Luis Trigacheiro diz que, para já, há que concluir a licenciatura em Agronomia, na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Beja. Só depois é que tenciona ingressar na escola de jazz, em Lisboa – um dos prémios que ganhou no programa televisivo.

 

“Vou partir para a aventura, o que tiver de ser será. Sonho com vários discos. Quando ouvi o meu nome [ser anunciado como vencedor], senti-me grato para com todas as pessoas que votaram e contribuíram para que chegasse até, aqui. Fui eu, mas podia ter sido um dos outros concorrentes, também mereciam”, conta Luís Trigacheiro, revelando que a vitória foi celebrada “com os amigos” que viajaram de Beja até Lisboa para assistir à final do programa.

 

“ENERGIA A MAIS” O pai, António Trigacheiro, lembra que o filho, em criança, foi sempre “muito sociável” e com uma “grande energia”. A ponto de a família chegar a pensar que poderia ser hiperativo. Afinal, era apenas “energia a mais”. A música acompanha-o desde muito novo: “Começou a cantar em pequeno, mas foi evoluindo, evoluindo, até que chegou ao ponto que todos os portuguese viram. Tem um grande talento e uma grande voz. A forma simples, singela e a humildade que tem, a cantar com aquele vozeirão, conseguiu convencer o país de norte a sul. Vejo comentários nas redes sociais que dizem que não há palavras pois ele tem uma voz fora de série”.

 

Luís Trigacheiro começou a cantar com 15, 16 anos, no grupo dos “Papa Borregos”, em Alvito. “A minha avó cantava nesse grupo, eu ia atrás dela, do que ela cantava, e ia cantando por cima”. Depois surgiram “Os Bubedanas”, onde encontrou um “grupo de amigos que ainda hoje se mantém”, e “Os Vocalistas”. Pelo meio ainda participou noutro grupo, “Os Improvisados”, com um repertório que vai além do Cante alentejano, integrando vários estilos musicais.

 

Carlos Nobre é um dos integrantes desse grupo. “[O Luís Trigacheiro] foi sempre a mesma pessoa, nunca mudou a sua postura, foi sempre muito humilde. Depois da vitória fomos festejar… mas ele tem os pés bem assentes na terra”. Outro dos amigos presente na final do concurso da RTP foi Buba Espinho: “”Quando percebi qual era o nome [do vencedor] que estava no envelope [entregue pelo júri] desatei aos saltos e aos gritos. Posso arriscar e dizer que esta vitória foi, já, um dos momentos mais altos de 2021”. Para além de amigos, são “parceiros de música”: fazem parte de “Os Bubedanas” e realizam espetáculos “que são uma espécie de mistura entre fado e cante alentejano”.

 

Quando cantam juntos, refere Buba Espinho, “às vezes quero que ele olhe para mim, mas canta quase sempre de olhos fechados. Fora do programa é mais tranquilo. O programa tem muita pressão sobre os artistas. Acho que não deve ter receio de abrir os olhos e de olhar para as pessoas, porque ele é mesmo muito bom naquilo que faz. Tem um talento incrível e a voz – que tem um alcance fantástico – é inacreditável”.

 

CONCORRENTE POR ACASO

 

A participação de Luís Trigacheiro no “The Voice” surgiu numa conversa a caminho de umas férias em Porto Covo com o João Maria [concorrente que pertenceu a uma outra dupla finalista]. Entretanto, um amigo em comum inscreveu-o: “Nunca tive muita expectativa, porque o ‘casting’ correu mal. Não estava confiante que fosse dar alguma coisa, mas deu e ainda bem”. Luís Trigacheiro, que “nunca na vida” pensou chegar à final, diz encontrar na família e nos amigos o apoio para abstrair-se “dos nervos e dar sempre” o seu melhor. “As Mondadeiras” interpretada no início das denominadas “provas cegas” é um tema que, para si, tem um significado especial: “Foi o ‘boom’, teve um alcance brutal e foi aí que se começou a desenhar o seu percurso no programa. “É um orgulho para todos, porque é um dos nossos, um miúdo que todos conhecemos, de poucas palavras, mas que quando chega ao palco e mostra aquela voz é um orgulho para todos os baixo-alentejanos”, diz outro amigo, Vítor Besugo.

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