Diário do Alentejo

Vendas de Natal "não resolveram" crise do comércio

27 de dezembro 2020 - 10:50

As tradicionais campanhas natalícias ganharam, este ano, maior relevância face a anos anteriores. A promoção e dinamização do comércio local assim o exigiram, pela necessidade urgente de incentivo ao consumo e apoio aos pequenos negócios, bastante fustigados pelas medidas adotadas no combate à pandemia de covid-19.

 

Texto Rita Palma Nascimento

 

“Este Natal está a ser diferente… contudo, nota-se um movimento crescente nos últimos dias, uma procura maior por presentes da época”, diz Helena Couraça, proprietária da perfumaria Aroma Ideal, com sete anos de existência. “Decidi abrir a perfumaria quando fiquei desempregada. É uma área com a qual me identifico e que, na altura, era pouco explorada na cidade. Arrisquei um novo conceito e fui, ao longo dos tempos, percebendo a necessidade que havia de se apostar em novos produtos”.

 

Hoje, para além dos perfumes, vende maquilhagem, acessórios em aço de marcas nacionais, entre outros produtos. Abriu em novembro de 2013. Um mês depois, o Natal “teve um impacto incrível em ternos de vendas”. O que, por cauda da pandemia, não sucedeu este ano. Ainda assim, refere, “os clientes habituais têm ido comprando”.

 

Nelson Bolinhas abriu A Loja dos Telemóveis em 2015. Desempregado, decidiu embarcar na aventura de criar o seu próprio posto de trabalho com a ajuda do Instituto de Emprego e Formação Profissional. “Trabalho em Beja desde o ano 2000 e nunca foi minha vontade de sair da cidade”. Num percurso sempre ligado à área das telecomunicações, com a concorrência direta das grandes marcas do setor, rapidamente percebeu que aquilo que a princípio se assumia como condicionante, rapidamente se transformaria numa oportunidade.

 

“Fazemos todo o tipo de serviços relacionados com telecomunicações e assim espero continuar por muitos anos, com um atendimento personalizado e adequado a cada caso e a cada cliente”. Sobre a campanha de Natal, Nelson Bolinhas diz que as coisas “complicam-se de ano para ano”, mesmo para quem porta aberta no centro da cidade. E, este ano, ainda pior. Ao decréscimo populacional soma-se a ausência de turistas. “Foi para esquecer”, desabafa o empresário. Nem a animação de rua – “a decoração foi bem conseguida” – foi suficiente para atrair mais clientes. “É necessário inovar e trazer pessoas para o centro da cidade”.

 

Cristina Dimas integra a equipa da Forte Store, uma marca nacional que desde há três anos trouxe uma “nova visão” do comércio de rua à cidade. “Temos sempre campanhas a decorrer que podem ir até aos 50 por cento de desconto, seja qual for a altura o ano. O dinamismo é extremamente importante, tal como a inovação”. Nesta época do ano, a empresa optou por abrir também aos domingos, “aproveitando a oportunidade da crescente procura pelos presentes natalícios”. Em qualquer dos casos, não há comparação possível com os anos anteriores. “Somos uma empresa ainda recente na cidade, não possuímos uma base sólida que permita grandes comparações, mas existe quebra [de vendas], como é natural. Os próximos dias poderão ser decisivos no balanço final”.

 

Com vinte anos de história à frente de uma das mais antigas e típicas casas de restauração de Beja, Saudade Campião deu mais um passo na diferenciação e criou, especificamente para a época, dois’ vouchers’ distintos, cuja adesão tem surpreendido. “Andava a pensar na ideia há já algum tempo, para dinamizar a nossa rotina enquanto restaurante e chegar a mais pessoas”. Criando a oportunidade de fazer diferente, numa alternativa comercial nestes tempos adversos, criou um ‘voucher’ para jantar, válido até março de 2021, e um de “oficina da cozinha”, onde os clientes aprendem a confecionar um trapo típico da gastronomia regional.

 

Parceira da Câmara de Beja e do Centro Unesco no projeto “Beja Experience”, onde tem vindo a ser o rosto de várias oficinas de culinária, Saudade Campião revela que foi essa experiência que impulsionou “o salto” para a criação de um projeto em nome pessoal.

 

Já no que respeita à realização dos habituais jantares e almoços natalícios, a quebra em relação aos anos anteriores foi muito acentuada, ou não fosse o setor da restauração um dos mais atingidos pelas consequências da covid-19. “Tem sido um ano diferente, com um decréscimo acentuado da procura, muito pela imposição do número reduzido de pessoas à mesa. Se anteriormente se juntavam mais de 20, à data estamos limitados a cinco. Tudo é estranho e diferente, por vezes assustador e muito incerto. Não parece Natal”, desabafa.

Comentários