Diário do Alentejo

Associação de Defesa do Património de Beja: 40 anos

11 de dezembro 2020 - 14:20

Texto Florival Baiôa, historiador e presidente da ADPBeja

 

O Santiago Macias, homem da arqueologia e história da nossa região, escreveu um dia neste jornal que Beja estava divorciado do seu património. O Santiago tinha parcialmente razão, porque o seu interesse pela história e arte da cidade são, na sua essência, desconhecidos por uma parte muito substancial dos seus habitantes. Eu costumo dizer que quem não conhece as suas raízes, as ruas, a arquitetura, os homens e mulheres que por aqui percorriam a cidade e construíram o passado, tem mais dificuldades em amar as pessoas e a cidade do que aqueles que a conhecem.

 

O Santiago esqueceu-se que todos os dias nas casas pobres e ricas se cozinham as delícias da nossa gastronomia, se consomem dos doces tradicionais e conventuais dos seus conventos, se cantam as modas medievais das suas vozes de antigamente, as suas anedotas e falares, e a manutenção de um dia-a-dia muito próprio que já desapareceu há muito de outras cidades e regiões.

 

Nós continuamos a construir a nossa identidade e o nosso património cultural. O que falta é a informação, ou procura dela, deste edifício enorme que é BEJA, como dizia um escritor do século XX esta é a minha Pátria, Beja capital do Baixo Alentejo.

 

Talvez por esta razão, uns quantos homens e mulheres nos finais dos anos 70, mais precisamente em 1978, começaram a discutir uma nova política patrimonial para a cidade e região, em que achava essencial preservar o seu património sob pena de se perder irremediavelmente, lembrando o que tinha sucedido nos finais do século XIX e princípio do século XX, e, se tivermos um pouco mais de atenção, a demolição da capela da rua da Capelinha, a sede da Inquisição, mesmo atrás da Câmara Municipal, etc, etc., casos que resultaram de ignorância ou de falhas de saber olhar para o dia de amanhã.

 

Temos o dever de preservar o nosso património para que os nossos filhos e netos o preservem como nós, para o poderem usufruir. É a cultura que nos diferencia e nos dá esta enorme qualidade de vida e entrelaça as nossas relações de amizade e vizinhança.

 

O Joaquim Mestre, o Ni Almodôvar, o Martins da Biblioteca, o Ramalho, o Baiôa, o Barahona, o Barbosa Bentes, o eng. Carrusca, o Borrela, a Lena, a Eulália e a Zézinha, o Vítor Silva, o Pereira Guerreiro, o Rochinha, o Luciano, o eng. Mira Galvão e o Rui Parreira decidiram criar, em 1979, a adpBEJA – Associação para a Defesa do Património Cultural da Região de Beja, com o objetivo de investigar, sensibilizar e preservar o património cultural desta região, podendo ainda apoiar outras gentes que tivessem as mesmas intenções na formação de associações.

 

Já se passaram 40 anos, quatro décadas de trabalho, mas de um sublime romance com esta cidade de 2.500 anos de idade, que consegue manter algumas das suas maiores virtudes com o passado, sem que nós demos pela rapidez com que o tempo passe, à exceção daqueles momentos em que andávamos a matar o tempo. Hoje corre demasiado rápido, fruto das nossas novas ocupações, porque a vida “custa muito a ganhar”.

 

Lembro-me da primeira exposição que fizemos no museu –“ Beja no século XIX”, das visitas guiadas que se iniciavam no antigo Convento de São Francisco; das mostras de doçaria – “O Doce Nunca Amargou”; das pequenas publicações que iam saindo para leituras de esplanada; das Maias, tão esquecidas nas ruas e nas criança e a mais antiga deste nosso país; das exposições de mantas tradicionais; das olarias de Beringel, onde se incluía análises e discussões; das múltiplas conferências de história, arqueologia, antropologia e política urbana; da Festa do Azulejo de Beja, o seu mais importante património artístico. As grandes exposições de rua para que a população olhasse e refletisse um pouco para o seu tempo, crescesse o seu interesse por ele, o património e o seu edificado.

 

São tantas as atividades e obra que por vezes, como é nosso hábito, esquecemos o que foi feito e quem o fez. Como acompanhou, sempre lado a lado, o “Diário do Alentejo” quando escrevia em destaque - a adpBEJA quer recuperar a doçaria conventual, que hoje podemos ver à venda em muitas pastelarias; ou a adpBEJA quer estudar e reconstruir a velha cidade de Beja; ou ainda mais temeroso ser hospedeira de movimento sociais como o Beja Merece.

 

Como somos muito esquecidos talvez valha a pena passar e ver o que foi feito nestes 40 anos de vida da adpBEJA, que vai inaugurar esta sexta-feira, dia 11, pelas 17:00 horas, no hospital velho - Santa Casa da Misericórdia de Beja e Pax Júlia e, se tiver bilhete, assistir ao espetáculo no Pax Júlia, às 20:00 horas, com parte do nosso património criativo liderado pelo António Zambujo que traz com ele uma roda de amigos.

 

Valeu a pena este trabalho de quatro décadas! Viva Beja!

PS … e não se esqueça faça-se sócio da adpBEJA

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