“A realidade existe desde sempre, mas a dimensão tem vindo a agravar-se”. Este ano “atingiu patamares insustentáveis, os impactos foram muito maiores”, lamenta Marta Cabral presidente da Associação Rota Vicentina, em entrevista ao “Diário do Alentejo”.
Ao chegar às falésias e trilhos do Pnsacv, a população e os visitantes deparam-se com lixo de todos os tipos, mas são os “dejetos, os papéis higiénicos e toalhitas sintéticas” que saltam mais à vista. Para Marta Cabral, estas são atitudes que “chocam” e que demonstram como “não é claro para as pessoas que praticar campismo e caravanismo selvagem não é permitido”.
A falta de “comunicação, sensibilização e orientação” podem também estar na origem deste problema que “virou moda”.
A presidente da associação questiona se as “empresa que estão a alugar carrinhas adaptadas [para esta prática] e sem casa de banho” se responsabilizam pela pernoita em locais que não é permitido. “É tudo uma questão de diálogo e criação um plano de contacto direto com quem está no terreno e até com os próprios campistas”, adianta.
Marta Cabral vai mais longe e refere que “nas redes sociais há centenas de imagens de figuras públicas a tomar o seu pequeno-almoço com vista para o mar da Costa Vicentina. Essas pessoas que partilham imagens das suas férias de autocaravanas, patrocinadas por empresas, não têm a menor noção de quão essa prática é ilegal e altamente prejudicial. Não têm consciência dos impactos”.
O “grande problema” é que “ninguém anda a fazer a limpeza dos trilhos e falésias”. As pessoas “que aqui vivem são obrigadas a conviver com este cenário vários meses e até anos. No caso das toalhitas sintéticas, se ninguém for lá tirar demoram anos até que se degradem na natureza”.
À associação chegam diversas queixas, inclusive de “caminhantes experientes” que dizem-se “chocados” com o lixo que encontram pelos trilhos. “Entendendo que cada um acredita na sua pegada-zero, a realidade é que a dimensão do fenómeno já ultrapassou há muito a real capacidade de carga da região, e passou a ser frequente encontrar lixo e dejetos humanos ao longo da costa”, refere a presidente da Rota Vicentina.
“O outro lado da questão”, prossegue Marta Cabral, está relacionado com a pandemia da covid-19: “Temos feito um esforço enorme enquanto comunidade para ultrapassar esta crise e para conquistar a sustentabilidade e qualidade. Mas, aquilo que alguns visitantes de verão nos deixaram foi um mar de lixo nos trilhos. Isso é mais um contributo que prejudica a capacidade para trabalhar o produto turístico que temos”.
PRÁTICA PUNIDA POR LEI
De acordo com a GNR, “a prática de campismo ou caravanismo fora dos locais para tal destinados, bem como qualquer forma de pernoita, constitui contraordenação ambiental leve, puníveis com coima que pode ir de 200 a 36 mil euros. “No âmbito das suas competências”, a Guarda Nacional Republicana “tem a especial incumbência de fiscalizar as infrações de todas as normas aplicáveis ao parqueamento e pernoita de autocaravanas. Através da realização do patrulhamento por parte dos Núcleos de Proteção Ambiental dos Destacamentos Territoriais, a GNR “tem conseguido mitigar, de forma efetiva, os impactos causados por este tipo de conduta, nas áreas protegidas”. De referir também que a 15 de maio deste ano, o Conselho de Ministros aprovou um decreto-lei que interditava o estacionamento fora dos parques e zonas de estacionamento “licenciados para o efeito, bem como a permanência de autocaravanas ou similares nos parques e zonas de estacionamento”. Dois meses depois, o Governo proibiu o estacionamento das autocaravanas “nos parques e zonas de estacionamento de acesso às praias, no âmbito da pandemia da covid-19”.