Diário do Alentejo

Campismo “selvagem” deixa rasto de lixo na Costa Alentejana

09 de outubro 2020 - 12:10

Este verão foram detetadas mais de 800 infrações de campismo e caravanismo ilegal no Sudeste Alentejano e Costa Vicentina, segundo apurou o “Diário do Alentejo” junto de fonte da Guarda Nacional Republicana (GNR). Em 2020 os militares identificaram mais de 100 pessoas “resultante da prática de campismos selvagem, caravanismo e estacionamento ilegal em locais não permitidos” e levantaram mais de 200 autos de contraordenação.

 

Texto Marta Louro

 

Trata-se de uma realidade que preocupa não só os autarcas do litoral alentejano, como também a população local. Cláudio Rosa, presidente da Junta de Freguesia de Porto Covo fala “num problema que se tem verificado há vários anos e que afeta toda a costa”. Este ano, foi colocada sinalética, em vários locais “para tentar ajudar as autoridades a controlar o problema”. Ao todo foram cerca de “26 placas, a informar da proibição de circulação e pernoita dentro do perímetro urbano, ficando os autocaravanistas com a circulação destinada para os parques de campismo, farmácia e mercado municipal”.

 

Para além disso, aquela é uma zona inserida no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (Pnsacv) que, segundo o autarca também proíbe o campismo e o caravanismo junto às falésias. “Acabar com esta prática ilegal não é fácil. Não podemos simplesmente mandar as pessoas embora. É preciso dar-lhes condições para que possam ficar”, alerta.

 

Na freguesia de Porto Covo existem “três parques de campismo. Todos eles estão aptos para receber caravanas, com capacidade para 320 lugares de estacionamento”, mas as “pessoas continuam a preferir as zonas junto às falésias, quando a lei não o permite”.

 

Segundo Cláudio Rosa, a solução poderá estar “na criação de parques de caravanismo, mais leis e mais fiscalização”. Para além da escassez dos estacionamentos, os problemas prendem-se também com o “campismo selvagem e o lixo que é deixado nas falésias”.

 

A Junta de Freguesia de Porto Covo e a Câmara de Sines “tentam os possíveis e os impossíveis para combater esta praga que existe, mas é algo que também “tem de passar pelas entidades competentes”, reforça o autarca.

“A realidade existe desde sempre, mas a dimensão tem vindo a agravar-se”. Este ano “atingiu patamares insustentáveis, os impactos foram muito maiores”, lamenta Marta Cabral presidente da Associação Rota Vicentina, em entrevista ao “Diário do Alentejo”.

 

Ao chegar às falésias e trilhos do Pnsacv, a população e os visitantes deparam-se com lixo de todos os tipos, mas são os “dejetos, os papéis higiénicos e toalhitas sintéticas” que saltam mais à vista. Para Marta Cabral, estas são atitudes que “chocam” e que demonstram como “não é claro para as pessoas que praticar campismo e caravanismo selvagem não é permitido”.

 

A falta de “comunicação, sensibilização e orientação” podem também estar na origem deste problema que “virou moda”.

 

A presidente da associação questiona se as “empresa que estão a alugar carrinhas adaptadas [para esta prática] e sem casa de banho” se responsabilizam pela pernoita em locais que não é permitido. “É tudo uma questão de diálogo e criação um plano de contacto direto com quem está no terreno e até com os próprios campistas”, adianta.

 

Marta Cabral vai mais longe e refere que “nas redes sociais há centenas de imagens de figuras públicas a tomar o seu pequeno-almoço com vista para o mar da Costa Vicentina. Essas pessoas que partilham imagens das suas férias de autocaravanas, patrocinadas por empresas, não têm a menor noção de quão essa prática é ilegal e altamente prejudicial. Não têm consciência dos impactos”.

 

O “grande problema” é que “ninguém anda a fazer a limpeza dos trilhos e falésias”. As pessoas “que aqui vivem são obrigadas a conviver com este cenário vários meses e até anos. No caso das toalhitas sintéticas, se ninguém for lá tirar demoram anos até que se degradem na natureza”.

 

À associação chegam diversas queixas, inclusive de “caminhantes experientes” que dizem-se “chocados” com o lixo que encontram pelos trilhos. “Entendendo que cada um acredita na sua pegada-zero, a realidade é que a dimensão do fenómeno já ultrapassou há muito a real capacidade de carga da região, e passou a ser frequente encontrar lixo e dejetos humanos ao longo da costa”, refere a presidente da Rota Vicentina.

 

“O outro lado da questão”, prossegue Marta Cabral, está relacionado com a pandemia da covid-19: “Temos feito um esforço enorme enquanto comunidade para ultrapassar esta crise e para conquistar a sustentabilidade e qualidade. Mas, aquilo que alguns visitantes de verão nos deixaram foi um mar de lixo nos trilhos. Isso é mais um contributo que prejudica a capacidade para trabalhar o produto turístico que temos”.

 

PRÁTICA PUNIDA POR LEI

De acordo com a GNR, “a prática de campismo ou caravanismo fora dos locais para tal destinados, bem como qualquer forma de pernoita, constitui contraordenação ambiental leve, puníveis com coima que pode ir de 200 a 36 mil euros. “No âmbito das suas competências”, a Guarda Nacional Republicana “tem a especial incumbência de fiscalizar as infrações de todas as normas aplicáveis ao parqueamento e pernoita de autocaravanas. Através da realização do patrulhamento por parte dos Núcleos de Proteção Ambiental dos Destacamentos Territoriais, a GNR “tem conseguido mitigar, de forma efetiva, os impactos causados por este tipo de conduta, nas áreas protegidas”. De referir também que a 15 de maio deste ano, o Conselho de Ministros aprovou um decreto-lei que interditava o estacionamento fora dos parques e zonas de estacionamento “licenciados para o efeito, bem como a permanência de autocaravanas ou similares nos parques e zonas de estacionamento”. Dois meses depois, o Governo proibiu o estacionamento das autocaravanas “nos parques e zonas de estacionamento de acesso às praias, no âmbito da pandemia da covid-19”.

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