O Museu Rainha D. Leonor, em Beja, “finalmente está a ter a atenção que as importantes coleções, edifício e memória desta instituição secular merecem”. A opinião é de Maria de Jesus Monge, presidente do ICOM Portugal – Conselho Internacional de Museus, que recentemente visitou museus em Beja, Mértola e Évora, acompanhando a deputada Alexandra Vieira, do Bloco de Esquerda.
Texto Carlos Lopes Pereira
A presidente do ICOM Portugal considera que a passagem do Museu de Beja para a tutela da Direção Regional de Cultura do Alentejo “terminou décadas de instabilidade”. Em entrevista ao “Diário do Alentejo”, Maria de Jesus Monge critica a anunciada extinção das direções regionais de cultura e a sua absorção pelas comissões de coordenação regionais “sem que estejam a ser acauteladas competências e circunstâncias específicas”.
Como decorreu a recente visita a museus em Beja, Mértola e Évora?
Os momentos singulares que vivemos vieram acentuar as grandes dificuldades com que lutam diariamente os museus e os seus profissionais. A direção do ICOM Portugal acompanha e procura dar voz a estes problemas, por todos os meios que tem ao seu alcance. Assim, temos vindo a informar e a manter um diálogo ativo com os vários grupos parlamentares. (…) A 3 de Setembro correspondemos ao interesse manifestado pela deputada Alexandra Vieira, do BE, na sequência do alerta do ICOM Portugal sobre o encerramento do Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, em Évora, que se traduziu no envio de uma carta à ministra da Cultura pedindo medidas urgentes para garantir a abertura ao público do único museu nacional a sul do Tejo. A deputada concordou em aproveitar esta deslocação para conhecer melhor várias das situações com que se confrontam os museus no Alentejo. Agendaram-se assim visitas a museus de Mértola, Beja e Évora. Em Mértola (…), a conversa e visitas realizadas confirmaram o impacto positivo a vários níveis que este exemplo, tão bem conhecido e reconhecido por todos, trouxe para um território longínquo e despovoado. Contudo, mesmo aí, sente-se a falta de recursos humanos, designadamente de quadros técnicos especializados. Torna-se imperativo quer a implementação efetiva da Lei-Quadro dos Museus, quer a realização de ações concretas tendo em vista a coesão museológica nacional, quer o revigorar da Rede Portuguesa de Museus.
Em Beja, no Museu Rainha D. Leonor, a preocupação expressa pelos técnicos (…) evoca as décadas de dificuldades que conduziram aquele museu secular ao estado de extrema degradação, de que só agora começa a recuperar. A anunciada extinção das direções regionais de cultura, atual tutela do museu, e sua absorção pelas comissões de coordenação regionais, sem que estejam a ser acauteladas competências e circunstâncias específicas, preocupa todos os que desejam que este e outros museus regionais tenham condições para cumprir a sua missão. O Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, em Évora, tem estado sob os holofotes pelas piores razões: a passagem a museu nacional, sob tutela direta da Direção Geral do Património Cultural, traduziu-se no acentuar da falta total de recursos humanos e técnicos. O encerramento um fim de semana por mês durante o verão, é um dos exemplos do calvário deste museu, e que parece não ter fim à vista.