Diário do Alentejo

“Auto de Natal” regressa à aldeia de Trindade

13 de dezembro 2019 - 12:05
DR/Arquivo

O “Auto de Natal da Trindade”, manifestação cultural secular celebrada naquela aldeia de Beja há pelo menos dois séculos, regressa na tarde de amanhã, sábado, dia 14. A peça decorrerá na rua de Santo André, das 17:30 às 23:00 horas, com uma hora de pausa entre as 20:00 e as 21:00 horas.

 

O “Auto de Natal da Trindade” remete “para uma tradição de teatros populares que em tempos pontuavam a paisagem rural alentejana. Por força e tenacidade de Mariana Lopes, Trindade é o último reduto onde ainda se faz levantar a peça com base num documento, escrito a pena, com vários séculos de história do qual Mariana Lopes é guardiã. Outrora celebrado durante quase sete horas, os atores, muitos deles iliteratos, ensaiavam durante meses, entre trabalhos árduos, os textos em verso deste auto que conta a história do início do mundo e da chegada do ‘salvador’. Entre intricadas passagens de enorme erudição, com notória inspiração bíblica, reconhecem-se décimas, vilancicos e partes em ‘língua de preto’, acentuando ainda mais a originalidade desta manifestação e levantando questões sobre a sua origem e significado que encontram-se ainda por estudar e responder”, adiantam, em comunicado, a Câmara Municipal de Beja e o Centro Unesco para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, em Beja, que, “por respeito a Mariana Lopes e a este importante tesouro”, se associaram à Baal17 – Companhia de Teatro “para proporcionar uma logística adequada, permitindo que o auto se levante novamente com toda a dignidade”.

 

“Este teatro é, na verdade, talvez o tesouro patrimonial mais desconhecido que podemos encontrar por terras alentejanas. Sobrevive, como grande celebração do Natal e da cultura popular, graças à família guardiã, encabeçada por Mariana Lopes, que, desde que aprendeu a andar, sempre participou na peça”, adiantam.

 

A iniciativa conta ainda com o apoio da Direção Regional de Cultural do Alentejo, da Junta de Freguesia de Albernoa e Trindade, da delegação de Beja da Cruz Vermelha e do Laboratório de Arte e Comunicação Multimédia da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Beja.

 

“É inegável o valor patrimonial do ‘Auto de Natal da Trindade’. Para além do valor histórico e da beleza e sabedoria dos versos que ali encontramos, foi fator de coesão de uma comunidade durante décadas. Hoje é uma viagem à memória e àquilo que nos diferencia, àquilo que resiste apesar de todas as crises, é a representação de uma cultura legítima, de elevado valor, que tem ainda lugar na contemporaneidade e deve ser reconhecida como tal”, concluem.

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