Diário do Alentejo

Crónica de Né Esparteiro: “O Pecado de Darwin”

16 de abril 2021 - 12:30

Quando, ainda no liceu, ouvi falar pela primeira vez de Charles Darwin e da sua teoria da evolução das espécies, não me pareceu absurda a ideia de que a espécie humana derivasse de uma evolução natural de alguns primatas a nós mais semelhantes, ou que o pescoço das girafas fosse tão alongado pela necessidade de chegar aos cada vez mais altos ramos das árvores, ou que os répteis tivessem evoluído a partir de criaturas que antes habitavam o meio aquático e foram desenvolvendo patas e pulmões para se adaptarem à vida fora desse habitat. Não me parece, contudo, que alguma vez tenha suscitado a dúvida sobre as bases desta teoria e a sua contradição com a religião católica, que assenta no dogma da criação do Homem e das outras espécies por Deus.

 

No livro “O Pecado de Darwin”, de John Darnton, a história é contada a partir da investigação de dois cientistas que, juntando esforços, descobrem diários e cartas da filha de Darwin, Lizzie, e encontram um capítulo secreto da biografia de Darwin que revela alguns segredos sobre o surgimento da teoria da evolução das espécies.

 

O romance faz referência à doença que debilitou Darwin, de causa desconhecida: “Desde que me lembro que o papá está doente. … A mamã diz que os ataques são provocados pelo seu trabalho, pela tensão de pensar tanto na história natural”. No entanto, Lizzie tem a sua própria opinião: “Tenho uma teoria própria para explicar a indisposição do papá… Acontece não só quando é abordado o tema da sua teoria, mas também quando acontece alguma coisa relacionada com a génese da teoria”.

 

Quem enunciou, pela primeira vez, a teoria da evolução das espécies? Darwin? Outro investigador? É numa carta escrita pelo ex-missionário que seguia a bordo do Beagle, juntamente com Darwin, que uma parte da história é revelada, na aldeia de índios de onde era proveniente Jimmy Burton, o índio adolescente que foi levado a Inglaterra e posteriormente devolvido ao seu povo.

 

Darwin explicava ao chefe da aldeia, Okanicutt, os princípios do cristianismo “… Deus criou o céu e a terra em seis dias, descansando no domingo”. Depois, a história de Caim e Abel, de Abraão a quem Deus ordenou que matasse o próprio filho, Noé e o dilúvio, Moisés a abrir as águas, e, por fim, Jesus, nascido do seio de Maria virgem.

 

O chefe da aldeia escutava Darwin, pasmado e incrédulo: Como era possível que a arca levasse dois exemplares de cada espécie animal e não se tivessem comido uns aos outros? Qual o aspeto desse Deus? E o chefe replicou: “Não acreditamos num Deus tão poderoso como o vosso. Já vivemos em abundância. Não fomos expulsos do nosso jardim por um deus, mas por outras pessoas… Para quê escolher uma explicação que não podemos ver quando há uma que podemos ver?”.

 

“Não acreditamos num Deus que fez as plantas e os animais. Ou que tenha feito o homem… e a mulher. Segundo a nossa crença, tudo aconteceu muito simplesmente. Havia uma única coisa minúscula e tudo cresceu a partir dela”.

 

O mesmo princípio da origem das espécies …

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