Diário do Alentejo

“As paisagens do Alentejo são almas mítico-poéticas”

22 de janeiro 2021 - 16:00

Texto José Serrano

 

Cabrita Nascimento inaugurou, dia 11, na Biblioteca Municipal de Beja, a exposição fotográfica Alentejo Maior, produzida para o Centro de Ciência do Café, em Campo Maior. 

 

Depois de, em 2019, ter exibido em Beja, no Centro Unesco,Alentejo Alma da Paisagem”, que “Alentejo Maior” é este, que agora nos oferece?

Fruto de um trabalho começado há 15 anos, as fotografias deste projeto constituem uma investigação sobre a estética da paisagem do Alentejo, fortemente marcada pela mão do homem e da mulher alentejanos. As paisagens do Alentejo são almas mítico-poéticas intemporais, que têm existência nas fotografias, onde persistem em permanecer como realidades sonhadas.

 

Aquando da inauguração desta exposição referiu o cante alentejano como elemento omnipresente nestas paisagens fotografadas. De que maneira se pode “escutar”, nestas imagens, este património da humanidade?

Nestas fotografias podemos sentir um canto que emerge da terra, uma polifonia sagrada que define a sua beleza radical nas paisagens alentejanas. O cante vive nestas imagens através das suas cores ao longo das estações do ano, das sua formas, dos seus desenhos, dos seus padrões, das suas texturas…

 

O cante inspira-o, enquanto artista?

Sim, muito, em todo os trabalhos que realizo sobre o Alentejo. O Alentejo é o coração palpitante do nosso mundo e o seu cante ecoa, omnipresente, por todos os seus lugares estéticos, culturais, paisagísticos, patrimoniais…

 

Como descreveria a relação que, como fotógrafo, tem mantido com a nova realidade paisagística do Alentejo, pela presença de um novo paradigma agrícola, predominantemente intensivo?

Perplexidade, confesso. Sei que tem de existir agricultura competitiva, mas o crescimento do olival e do amendoal, superintensivos, deixa-me muito preocupado. Penso que se está a exagerar. Não sei se me vou habituar a um “Alentejo algarvio”, repleto de amendoeiras em flor… A destruição do património arqueológico e megalítico, que se tem verificado nas últimas plantações intensivas, é gravíssima e irreversível.

 

O que gostaria que estas suas imagens pudessem transmitir aos seus espetadores?

Beleza, uma sensação de bem-estar poético. Mas também alerta: cabe a cada um de nós, enquanto cidadãos, contribuir para preservar o equilíbrio agrícola, ambiental e cultural do Alentejo e transmitir às futuras gerações uma região onde a cultura tradicional e a biodiversidade sejam uma realidade viva.

 

Nota: A Biblioteca de Beja encontra-se, atualmente, encerrada ao público, no âmbito da pandemia e das novas medidas extraordinárias determinadas pelo Governo. Após a sua reabertura, a exposição poderá ser vista até 27 de março.

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