Diário do Alentejo

“Todos os clubes têm que ter ambição”

14 de junho 2021 - 11:35

Um grupo de jovens fundou, no ano de 2004, a Associação de Jovens de Brinches, com o objetivo de proporcionar alguns eventos de cultura, desporto e lazer à juventude daquela freguesia do concelho de Serpa.

 

Texto Firmino Paixão

 

Pedro Ventura, atual presidente da Associação de Jovens de Brinches (AJB), lidera os órgãos sociais reeleitos para o biénio 2021/22. Não esteve entre os fundadores, contudo, conhece as motivações que levaram os jovens a fundar este núcleo desportivo e cultural, num concelho onde o movimento associativo é forte e diversificado. A atividade desportiva, porém, só foi iniciada sete anos após a sua criação, com a participação de uma equipa de futebol de onze nos campeonatos da Fundação Inatel, explicou o seu atual líder, empenhado no sucesso deste projeto.

 

Os jovens fundadores terão sentido a necessidade de criar um novo polo associativo. O que existia não dava resposta às suas pretensões?

 

Nós tínhamos aqui uma a banda filarmónica, algo mais ligado à cultura musical, temos o Moto Clube, ligado, naturalmente, aos convívios de desporto motorizado e que ainda está no ativo, e então, depois do Atlético de Brinches ter cessado a atividade, não existia nada que motivasse os mais jovens para o desporto, e daí, a criação da associação.

 

Serpa é um concelho com um movimento associativo forte, diversificado, muito bem equipado em termos de infraestruturas desportivas…

 

Sim, todas as freguesias, mesmo as mais pequenas, estão bem dotadas de equipamentos. Brinches só não tem ainda um polidesportivo, existe um projeto, mas ainda não foi concretizado.

 

A freguesia tinha, nos últimos Censos, cerca de um milhar de habitantes. E a população juvenil era numerosa?

 

A freguesia tem perdido muitos jovens. Há muita falta de trabalho e o que existe é na agricultura. Muita gente não gosta e sai para a hotelaria, refugiam-se no Algarve ou em Lisboa, e outros emigram. Ainda assim, temos uma direção composta por nove jovens, posso até arriscar que, desses, sete ou oito estão ligados à atividade agrícola e foi por isso que ainda conseguimos reunir uma direção.

 

Quando foi criada a Associação não equacionaram antes revitalizar o clube que já existia, o Atlético Clube de Brinches?

 

A Associação surgiu em 2004 e a última atividade do Atlético, salvo erro, foi em 2001 ou em 2002. Nunca se equacionou essa situação. A ideia era competirmos no Inatel, ainda reunimos com as autarquias e concluímos que seria muito difícil a reativação do clube porque existiam alguns problemas financeiros. Seria difícil… depois, há sempre o gosto em criar algo que é novo e em que nós podemos projetar o futuro.

 

A atividade desportiva surgiu cerca de sete anos após a fundação?

 

Sim, e fizemos quatro épocas. No primeiro ano tivemos um plantel com 22 ou 23 jogadores e, desses, 15 ou 16 eram da terra. No segundo ano baixámos para oito ou nove atletas locais. O plantel era muito mais competitivo porque fomos buscar atletas que o Piense dispensou. Os jovens iam saindo para estudar, outros emigraram e as coisas complicaram-se. Os atletas de Pias regressaram ao seu clube e tivemos que nos virar para outro lado. No quarto ano, compreendemos que, com tão poucos jogadores da terra, não teríamos base para continuar.

 

Surgiu então o futsal que exige menos recursos, ainda assim só mantém a meia dúzia de atletas da terra? Gostariam de ter disputado o campeonato.

 

Somos seis. Na época passada tínhamos nove, mas sem experiência e num plantel muito jovem. Este ano ficámos com esses seis jogadores, mas a nossa ambição foi sempre a disputa do Campeonato Distrital. Sempre dissemos à Associação de Futebol de Beja que estaríamos disponíveis para o fazer, ainda se pôs a questão de nos juntarmos a Évora, mas isso caiu por terra. Nós, o Baronia e o Moura tínhamos essa vontade, seriam sete ou oito equipas e o campeonato seria mais competitivo, aqui éramos quatro, depois a Casa do Benfica de Castro Verde desistiu. Sabemos que o futsal não tem sido atrativo, têm-se perdido muitos clubes.

 

E a promoção de outras modalidades?

 

Já se falou na possibilidade de criarmos camadas jovens, de fazermos, pelo menos, um escalão de formação com os miúdos aqui de Brinches e mais alguns que consigamos ir buscar aqui perto. Mas em termos de outras modalidades, nesta altura, não está nada planeado.

 

A Associação tem mutos sócios? Tem uma sede social?

 

Temos uma sede que funciona na Sociedade 1.º de Junho Brinchense, que alberga as atividades culturais, desportivas e de lazer, mas em termos de associados só contamos com os elementos que compõem os corpos diretivos, porque também ainda não abrimos o processo de angariação de mais associados.

 

A comunidade local reconhece, e valoriza, o papel desta Associação de Jovens?

 

Quando tínhamos futebol de 11 era tudo muito diferente, porque mobilizávamos a população. Sempre que jogávamos as pessoas iam ao campo de futebol, assistiam aos jogos e as coisas eram diferentes, havia uma identidade maior. Com o futsal, neste momento estamos a jogar em Serpa e as pessoas, às vezes, esquecem-se um bocado que existimos, deslocavam-se 10 ou 15 pessoas, quando isso era permitido. As pessoas sabem que existimos, mas não têm o sentimento de que estamos a fazer alguma coisa em prol da população.

 

Tem valido a pena este percurso de 17 anos? E sonhos para o futuro?

 

Sim, esta direção que está em exercício tem nove jovens, entre os 24 e os 30 anos. Achamos que isto é gratificante, iniciámos o mandato no biénio 2019/20 e já o renovámos. Queremos que o futsal tenha futuro e que em Brinches possamos ter equipas durante uns anos. O sonho? Sabe, todos os clubes têm que ter ambição, nós somos ambiciosos, queremos uma equipa mais experiente, com mais qualidade, queremos crescer e valorizar a Associação e, um dia, o sonho seria a conquista de um título. Queremos ter futuro no futsal, portanto, temos que possuir qualidade técnica e tática e construir uma base sólida. Queremos um projeto com futuro, para conquistarmos alguma coisa.

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