Diário do Alentejo

Covid-19: Beja com 500 camas para pessoas em quarentena

10 de abril 2020 -

Há mais de 500 camas prontas, em Beja, para receber migrantes e idosos cujos lares venham a ser encerrados devido ao alastrar da covid-19. Além de pavilhões e de instalações do Regimento de Infantaria, também três unidades hoteleiras poderão ser requisitadas, se houver necessidade de alojar profissionais de saúde. Com o número de casos a aumentar, ainda que de forma contida, pelo menos até agora, a maior preocupação prende- -se com o chamado “grupo de risco”, em particular os idosos. Já há registo de casos positivos em dois lares do Baixo Alentejo.

 

O plano municipal de emergência e proteção civil de Beja para o combate à covid- 19 prevê que os hotéis Francis, Santa Bárbara e Mélius possam, em caso de necessidade, alojar profissionais do setor da saúde. Paulo Arsénio, presidente da Câmara Municipal de Beja, acrescenta que existem mais de 500 camas disponíveis para receber pessoas a quem seja determinado um período de quarentena. Estes espaços são os pavilhões da Escola de Santa Maria (com capacidade para 50 pessoas) e da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Beja (com capacidade para 30) e o Pavilhão Municipal João Serra Magalhães (50). Em caso de necessidade, serão disponibilizados para funcionarem como “espaços de quarentena para migrantes”. Também os idosos instalados em lares que tenham de ser encerrados devido ao avanço da pandemia têm espaços de “recuo” previstos, nomeadamente no Seminário Diocesano de Beja (42 pessoas), no Regimento de Infantaria (RI) 1, que está pronto para acolher 200 pessoas, num dos pavilhões do Parque de Feiras e Exposições (80) e na Pousada da Juventude (32), este último em articulação com a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba). De reserva, e para a eventualidade de ser necessário recorrer a “contingentes suplementares de bombeiros”, ficam outras instalações do RI1, com capacidade para receberem 50 pessoas. A Base Aérea de Beja é outra das infraestruturas que poderá ser acionada para o combate à covid-19.

O presidente da Câmara de Beja mostra-se reconhecido a “todas as instituições públicas e privadas que disponibilizaram as suas instalações”, manifestando o desejo de que “não venham a ser necessárias, nem para Beja, nem para nenhum dos municípios” que integram a Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo. Também Serpa, que ativou o plano municipal de emergência na passada sexta-feira, dia 3, e onde já foram registados diversos casos positivos da doença, foi preparada uma das salas do Pavilhão Carlos Pinhão para eventualmente poder vir a acolher doentes. O espaço está apto “a receber cerca de 20 pessoas”, encontra-se “equipado com camas cedidas pelo exército” e tem acesso a balneários independentes. A escolha do local teve em conta a proximidade do refeitório municipal e do centro de saúde da cidade.

CASOS EM LARES DE IDOSOS

Com o número de casos positivos a aumentar em todo o Alentejo – onde, até ao fecho desta edição, não tinha sido registada qualquer morte devido ao novo coronavírus – a maior preocupação das autoridades de saúde continua a ser o denominado “grupo de risco”, composto por pessoas com mais de 70 anos de idade, grupo onde a mortalidade por covid-19 tem sido mais elevada. No Baixo Alentejo já foram registados, pelo menos, dois casos positivos em lares de idosos. O primeiro caso ocorreu no lar do Centro Social São Jorge e Senhora das Pazes, em Vila Verde de Ficalho. “Fomos solicitados, a pedido da Linha SNS24, para realizar o transporte da mulher para o hospital de Beja, por suspeita de covid- 19”, adiantou o comandante da corporação, José Cataluna, explicando que a idosa foi “transportada com todos os cuidados” e ficou na unidade hospitalar. A Câmara de Mértola confirmou, entretanto, ter sido registado o primeiro caso positivo de covid-19 no concelho. Trata-se de uma utente, com cerca de 90 anos, do Centro Social dos Montes Altos, freguesia de Santana de Cambas, também ela internada no Hospital de Beja. “Após a confirmação oficial pela Direção-Geral de Saúde foram de imediato acionados os procedimentos adequados à situação. As instalações do Centro Social dos Montes Altos foram encerradas, e os/as utentes e funcionários/as irão permanecer no interior do edifício, até serem efetuados os testes a todos e a todas”, revelou o presidente da autarquia, Jorge Rosa. Numa informação à população a Câmara de Mértola recomenda aos municípios que se “mantenham em isolamento profilático e serenos, até serem divulgados os resultados dos testes efetuados à covid-19”.

 

SITUAÇÃO “DRAMÁTICA”

 

Numa carta dirigida ao Presidente da República, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Ourique, instituição que dá apoio a cerca de 340 famílias, classifica a situação que se vive no Alentejo como sendo “dramática”. “Decorrido quase um mês sobre os alertas referentes à pandemia que nos assola, não recebemos uma única máscara, um simples par de luvas, um singelo frasco de álcool gel, já para não falar de um único indispensável fato de proteção”, escreve José Raul dos Santos, acrescentando que a instituição tem estado a sobreviver da “caridade alheia”. “Não há dia em que, através das televisões, não veja aviões a desembarcar nos aeroportos portugueses, ao que me dizem carregados de material de proteção e cujo destino será qualquer um, menos este Alentejo que muitos classificam de profundo e que eu só posso apelidar, por experiência própria, como abandonado e bastardo”, prossegue José Raul dos Santos, segundo o qual a Misericórdia está a viver uma situação “dramática”, com falta de material de proteção e sem que se tenham realizado testes para detetar possíveis infetados, entre utentes ou trabalhadores do lar.

 

CENTRO DE PARALISIA CEREBRAL CRITICA INSPEÇÃO EM TEMPO DE PANDEMIA

 

“Tudo fazemos para cumprir, tudo fazemos para proteger, tudo fazemos para cuidar, tudo fazemos para salvar. Mas, tristemente, descobrimos que para algumas entidades, salvar é apenas uma palavra oca de sentido. Não interessa salvar vidas nem importa o esforço despendido pelos outros nesse sentido. O importante é fiscalizar, tentar punir, exigir o impensável e inexequível, dado o momento que vivemos”. É desta forma que a direção do Centro de Paralisia Cerebral de Beja reage, em comunicado, a uma inspeção de que foi alvo por parte da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT), que decidiu abrir um processo à instituição por, alegadamente, não estar a respeitar o limite de dias de trabalho consecutivo, nem os descansos semanais e diários dos trabalhadores da instituição. “Num período de calamidade pública em que o valor supremo é manter a saúde de cada um e de todos nós, exigem documentos, levantam processos, desconhecem a realidade e impedem o que as normas das entidades competentes nos exigem: proteger e salvar vidas”, refere o comunicado.

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