Diário do Alentejo

Casa mortuária de Barrancos distinguida pela sua arquitetura

07 de dezembro 2024 - 08:00
Projeto vence Prémio Concreta Under 40
Foto | Nuno AlmendraFoto | Nuno Almendra

Depois de ter vencido, em 2019, o concurso público promovido pela Câmara Municipal de Barrancos, o gabinete de arquitetura MESA Atelier venceu a edição deste ano do Prémio Concreta Under 40, com o projeto, já implementado, da nova casa mortuária da vila. A intervenção permitiu, de acordo com Paulo Dias, autor galardoado, “uma reflexão abrangente sobre como os espaços dedicados à perda podem estar associados a lugares de conforto e tranquilidade”.

 

Texto José Serrano

 

O projeto arquitetónico Casa Mortuária de Barrancos, da autoria de Paulo Dias, com João Varela e Ana Isabel Santos como coautores, do gabinete de arquitetura MESA Atelier, alcançou, recentemente, o primeiro lugar da 4.ª Edição do Prémio Concreta Under 40, iniciativa que tem o objetivo de reconhecer o trabalho desenvolvido pelas novas gerações de arquitetos portugueses, cujos projetos “se destacam pela capacidade criativa e de inovação, aliadas à qualidade técnica”.

A ideia subjacente a este projeto arquitetónico assenta na criação de “um edifício que respondesse não apenas à função a que se destinava, como também ao local onde seria erguido, servindo ele próprio de catalisador para uma cirúrgica regeneração urbana, em harmonia com as características do local”, informa Paulo Dias. Desta forma, o projeto, que visou a construção de um equipamento público na base do cemitério de Barrancos, em ligação direta com o olival centenário, “foi desenvolvido e materializado com a finalidade de gerar um edifício de características próximas às construções vernaculares/tradicionais existentes”.

Além do edifício principal, que contém as duas capelas mortuárias, promoveram-se, ainda, novos percursos pedonais que se desenvolvem “tanto pelo exterior do edifício, como através do seu interior, promovendo o seu atravessamento”. A intervenção visou, ainda, a criação de um equipamento público inclusivo, “onde a informalidade da ocupação do mobiliário permite celebrações distintas e possibilita a afetação a qualquer culto”. Os espaços são desenhados “de forma contida e despojados de adornos, sendo que o que lhes confere valor é a sua relação pontual com a paisagem e o atravessamento da luz natural ao longo do dia no topo das duas capelas num claro convite à introspeção, delegando os momentos de reunião e convívio para o átrio e para o exterior, com a criação de uma praça pública para o efeito”, frisa o arquiteto distinguido.

Pretendendo-se que o novo edifício apresente um reduzido impacto na paisagem “através da sua expressão quase anónima”, o projeto proporcionou, pela particularidade da sua função, “uma reflexão abrangente sobre como os espaços dedicados à perda podem estar associados a lugares de conforto e tranquilidade, e de como a arquitetura poderá contribuir positivamente para amenizar esses momentos”, com a criação de ambientes que “convidem à introspeção, sem desvirtuar a ligação espiritual que cada indivíduo terá, independentemente da sua crença ou religião”, sublinha o arquiteto.

Para o desenvolvimento do projeto, existiu, por parte dos seus responsáveis, um reconhecimento e estudo prévios das especificidades do território. “A identidade e a cultura de um povo estão intimamente ligadas ao tipo de ocupação do território e à especificidade construída dos seus povoados. O reconhecimento e a análise das características de uma determinada região ou local são para nós fundamentais para determinar a adequação das soluções que pretendemos desenvolver”. No caso da casa mortuária de Barrancos, esse estudo, aliado à visita ao local de intervenção, “revelaram-se fundamentais para a implantação exata do edifício e escolha dos materiais a utilizar na sua construção, nomeadamente, o xisto – material que, pela sua abundância, apresenta um papel determinante no legado construtivo da região, tanto na edificação de estruturas como na pavimentação de ruas – em contraponto com as paredes caiadas de branco”. Aliando o uso de técnicas construtivas “vernaculares e contemporâneas, pretendeu-se que o edifício da casa mortuária contribuísse para a manutenção do legado construtivo da região”, refere Paulo Dias.

O projeto, agora galardoado, cujas obras foram concluídas em agosto passado, foi resultado de um concurso público, promovido, em 2019, pela Câmara Municipal de Barrancos, com assessoria técnica da Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitetos.

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