Diário do Alentejo

“É preciso concluir o IP8, investir na ferrovia e no aeroporto”

11 de junho 2021 - 14:25

Em entrevista ao “Diário do Alentejo”, Rui Raposo, presidente da Câmara de Vidigueira, salienta o trabalho feito em prol da valorização patrimonial do concelho, nomeadamente através da promoção territorial associada aos seus recursos vitivinícolas. O autarca refere a necessidade, entre outras, de “uma política que inverta a desertificação da generalidade dos concelhos do interior”, da “alteração do modelo agrícola, apostando na diversidade” e da obrigatoriedade “em manter as preocupações com as questões sanitárias, associadas à pandemia”.

 

Texto José Serrano

 

O que se modificou no concelho de Vidigueira, desde a presidência camarária que iniciou em 2017?

 

Na transição do mandato anterior para o atual, um conjunto de projetos, pelo volume de financiamento que envolviam, pelo conjunto de aspetos técnicos que exigiam, não conduzidos da melhor forma, condicionaram a atuação do início deste mandato, pelo conjunto de exigências que foi preciso ultrapassar. Obras que, para serem iniciadas, tinham de ter o visto prévio do Tribunal de Contas. Não houve o cuidado necessário por parte do anterior executivo, que lançou obras sem o poder fazer e isso trouxe graves prejuízos para o município. No Centro Interpretativo do Vinho da Talha não só tivemos de recomeçar todos os procedimentos como não pudemos incluir no financiamento comunitário as obras já concluídas – um prejuízo próximo dos 100 mil euros. Noutras situações houve necessidade de alterar projetos, melhorando a funcionalidade dos espaços. Um período de alguma dificuldade que conseguimos superar, valorizando, patrimonialmente, o concelho. 

 

Quais as “obras” que considera serem, até à data, as mais emblemáticas deste seu mandato?

 

A construção do Centro de Interpretativo do Vinho da Talha, em Vila de Frades, é um dos pilares mais importantes da nossa política de promoção territorial, associado à Rota do Vinho da Talha e à candidatura do Vinho da Talha a Património da Humanidade, liderada pelo Município de Vidigueira, alavanca importante na promoção do enoturismo; a reabilitação do Mercado Municipal de Vidigueira, com as valências tradicionais e possibilidade de utilização para eventos culturais, recreativos e de outra natureza; a reabilitação da Escola Frei António das Chagas; dando melhores condições às crianças que a frequentam e criando condições para o funcionamento no edifício da Universidade Sénior; novos e modernos espaços desportivos nas instalações da piscina municipal; início da construção de uma rede de ciclovias, com a primeira fase já concluída, a qual inclui uma zona de lazer com aparelhos para a prática de ginástica e parque de merendas; a Casa do Vinho e do Cante; a reabilitação das habitações na Horta de São João. Sendo estas as mais emblemáticas, existem outras “obras”, já executadas ou em curso, não menos importantes para a qualidade de vida da população do concelho, como a reabilitação urbana em Selmes, a reabilitação do parque infantil em Vila de Frades, a reabilitação da Praça da República de Pedrógão do Alentejo, a criação de uma rede de percursos pedestres, entre outras iniciativas. O Vidigueira Vinho – um projeto indispensável na nossa estratégia de promoção do território –, o Vidigueira ao Fresco, que dinamiza as praças ajudando à vitalidade do comércio local, a escalada da serra do Mendro, o desfile de carnaval, são exemplos. Nas freguesias, todas as iniciativas realizadas têm o apoio, financeiro e logístico da câmara: Os Sabores da Caça, em Selmes, o Festival do Peixe no Rio, em Pedrógão, os Sabores e Iguarias com Silarcas, em Marmelar, a Maratona do Caracol, em Alcaria, o São Martinho, em Vila de Frades. Realce também para o novo Centro de Saúde de Vidigueira, que está a avançar, fruto da nossa intervenção reivindicativa junto das entidades, regionais e centrais, responsáveis pela área da saúde.

 

Que objetivos, por si ambicionados para este mandato, poderão ficar por cumprir?

 

Não propriamente por cumprir: o conjunto de projetos de que estamos a falar são objetivos que dificilmente poderiam ser para um único mandato, sobretudo se tivermos em conta as dificuldades financeiras, os entraves permanentes criados pela oposição e a situação de pandemia. Estamos a falar do Parque Urbano de Vidigueira, com projeto e financiamento comunitário já aprovado, uma antiga aspiração da população, uma obra no valor de 1,5 milhões de euros, cujo concurso público vamos lançar brevemente. “Na forja estão a requalificação das praças da república em Pedrógão e na Vidigueira, o parque de festas de Selmes, o Largo da Bica em Alcaria da Serra, a reabilitação da piscina, dos polidesportivos e dos parques infantis. E um outro projeto, o Parque Fluvial do Guadiana, em Pedrógão do Alentejo”.

 

Com as próximas eleições autárquicas marcadas para setembro/outubro, qual a sua principal prioridade nesta “reta final” de mandato?

 

Para além de darmos continuidade aos procedimentos necessários à concretização dos projetos referidos anteriormente, a prioridade é assegurar, com qualidade, a gestão corrente. Para nós, é uma obrigação manter o espaço público limpo e arranjado, a limpeza urbana, os espaços verdes, a manutenção dos equipamentos municipais, a manutenção dos caminhos, o apoio ao movimento associativo, as preocupações com as questões sanitárias, associadas à pandemia.

 

Na sua perspetiva, quais os principais problemas com que o concelho de Vidigueira se debate?

 

É necessário uma política que inverta a crescente desertificação demográfica da generalidade dos concelhos do interior. Precisamos de melhores acessibilidades – não temos poupado esforços junto da Administração Central, chamando a atenção da necessidade de reabilitação da rede viária, uma luta muito antiga, particularmente o troço que liga Pedrógão do Alentejo a Alvito. A uma escala regional mas com reflexos profundos no nosso concelho, é preciso concluir o IP8, investir na rede ferroviária e no Aeroporto de Beja. A alteração do modelo agrícola, apostando na diversidade, opção fundamental, em termos económicos, sociais e ambientais.

 

“TEMOS DE CONTINUAR A APOSTAR NO ENOTURISMO”

 

Quais os principais desafios que o presidente da Câmara de Vidigueira, que será eleito para o quadriénio 2021/2025, terá pela frente?

 

O enoturismo é uma potencialidade em que temos de continuar apostar. Temos 14 adegas, todas premiadas. Os investimentos têm sido constantes. O último, que associa à adega um hotel de cinco estrelas e um restaurante, ronda os 10 milhões de euros. A captação de investimento, de empresas que possam contribuir para a fixação da população jovem existente, criando emprego sustentável, com condições para uma melhoria da qualidade de vida de toda a população do concelho, continuarão a ser os desafios no próximo mandato.

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