Diário do Alentejo

Covid-19: 18 concelhos alentejanos sem rasto da doença

29 de maio 2020 - 11:05

A desertificação é uma das “forças inimigas” do Alentejo, mas "aliada" a alguma sorte e ao civismo dos habitantes, grande parte idosos, pesou para que existam 18 concelhos sem casos de covid-19 desde o início da pandemia. Quatro dos 14 concelhos do distrito de Beja não têm, até hoje, registo de qualquer caso de infeção pelo novo coronavírus: Alvito e Barrancos, os dois mais pequenos, Ourique e Vidigueira.

 

Com quase 1.800 habitantes, Barrancos tem conseguido “escapar” a casos de infeção apesar de fazer fronteira com Espanha e ter como um dos “vizinhos” o concelho de Moura, o mais afetado pela pandemia no Alentejo e onde já se confirmaram 80 infeções.

 

Apesar da proximidade geográfica com Espanha e Moura, a “aceitação cívica muito grande da parte da população” das regras de prevenção e as medidas adotadas por autoridades locais, como distribuição de equipamentos de proteção individual a instituições e à população, “aliadas à baixa demografia” podem “ajudar a explicar” não haver registo de qualquer caso no concelho, diz à Lusa o presidente da câmara, João Serranito Nunes.

 

Por outro lado, o fecho do ponto de fronteira entre Barrancos e Encinasola, “apesar de ter complicado a vida a várias pessoas”, nomeadamente trabalhadores fronteiriços e empresários, “teve um efeito positivo: o de ter travado o corrupio habitual entre os dois lados da fronteira, fruto do intercâmbio bastante aprofundado de relações económicas, sociais e culturais” entre os barranquenhos e os vizinhos espanhóis, frisou.

 

Com cerca de 4.300 habitantes, a maioria idosos, Avis é um dos oito concelhos do distrito de Portalegre, composto por 15 municípios, que não registaram até hoje nenhum caso associado à pandemia, segundo dados das autoridades locais de saúde. “A população aderiu muito bem a todas as campanhas e tem tido os cuidados essenciais de higienização”, justifica o presidente do município, Nuno Silva.

 

Apesar de o concelho ter recebido durante o período de confinamento um “número significativo” de pessoas de outras zonas do país, o encerramento dos serviços públicos e a baixa densidade populacional contribuíram, segundo o autarca, para os resultados alcançados. A delegada de saúde pública de Portalegre, Margarida Saudade e Silva, confessa ser “difícil” fazer uma análise interpretativa ao reduzido número de casos no distrito, considerando que a baixa densidade populacional “poderá ter contribuído” para os resultados.

 

Mesmo “pegado” a Avis, fica o concelho de Mora, já no distrito de Évora, também protegido pela “sorte” de a covid-19 ainda não lhe ter “batido à porta”, apesar de fazer também fronteira com Coruche (Santarém), município onde já se registaram cerca de 50 casos, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).

 

“Temos passado pelos intervalos da chuva, sobretudo graças a alguma sorte. Qualquer um de nós contactamos com outras pessoas, muitas vezes de fora do concelho”, afirma o presidente da Câmara de Mora, Luís Simão, realçando que os habitantes da vizinha vila do Couço, em Coruche, que “chegou a ter 14 casos”, fazem “muito a vida” na vila alentejana.

 

Mas “a sorte também se procura” e “foi isso” que a câmara e os cerca de 4.500 habitantes fizeram durante a pandemia, enfatizou. O município adotou medidas para combater a propagação do novo coronavírus (SARS-CoV-2) e os moradores tiveram um “comportamento exemplar”.

 

Dos 14 concelhos do distrito de Évora, Mora é um dos seis sem registo de qualquer caso de covid-19, ao longo da pandemia. O delegado de Saúde Pública distrital, Augusto Santana Brito, apontou como exemplos “o isolamento do Alentejo, fator reconhecidamente negativo no desenvolvimento” da região, que neste caso funcionou como “um fator protetor”, tal como a existência de uma população envelhecida e com menor mobilidade.

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