Uma situação que, por um lado, colide, paradoxalmente, com a “expansão” que se vive atualmente na região “com a atividade do Complexo Industrial e Portuário de Sines a fixar população jovem, o que tem proporcionado, felizmente, o nascimento de muitos bebés e o crescimento de muitas crianças na região”, diz o coordenador. Por outro lado, uma situação consentânea com o que se passa em todo o Alentejo, a região no País a apresentar o menor número de pediatras, 38, de acordo com dados, referente a 2018, do Relatório Social do Ministério da Saúde e do Serviço Nacional de Saúde.
Os alertas das Comissões de Utentes do Litoral Alentejano têm vindo, ironiza Dinis Silva, recorrentemente a ser “empurrados com a barriga” pelo conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano (Ulsla) e pelo Ministério da Saúde, “que não têm sido capazes de solucionar, de uma vez por todas, esta lacuna, com a contratação de especialistas suficientes para assegurar as necessidades do serviço de Pediatria, nomeadamente, as consultas e a urgência pediátrica que deveria funcionar, eficientemente, durante 24 horas por dia”.
A solução deste problema poderia passar, considera o coordenador, pela reintrodução do Serviço Médico à Periferia, que, de 1975 a 1982, “enviou” para os hospitais distritais do interior jovens médicos acabados de concluir o primeiro ano de internato médico. Até lá, as necessidades de serviços pediátricos continuarão, as que inspiram maiores cuidados, a serem direcionadas a mais de 100 ou 150 quilómetros, para o Hospital de São Bernardo, em Setúbal, ou para o Hospital Dona Estefânia, em Lisboa.
Para as consultas pediátricas de rotina, “se a consulta externa do HLA ficar sem médico pediatra”, os utentes procurarão, prevê Dinis Silva, “aqueles que ainda conseguem pagar consultas caríssimas, as clínicas privadas, outros terão de deslocar-se a Setúbal, porventura a Beja”, as cidades com serviços hospitalares pediátricos mais próximas.
Luís Matias, presidente do conselho de administração da Ulsla, entidade que neste momento tem inscritos, em idade pediátrica (até aos 18 anos menos um dia), cerca de 15 200 utentes, declara que esta unidade deveria ter, “no mínimo”, cinco pediatras, considerando que não tem internamento de Pediatria. “As necessidades da Ulsla em termos de Pediatria não se resumem aos doentes inscritos, pois a população circulante mais que duplica no verão, com utilização acrescida do serviço de urgência. Por outro lado, os centros de saúde – sem pediatras, porque não é especialidade deste nível de cuidados –, têm consultas de saúde infantil e acompanham as crianças no âmbito da Medicina Geral e Familiar”, expõe Luís Matias.
Devido a este número insuficiente de médicos especialistas, as necessidades pediátricas são colmatadas “dentro da capacidade de resposta possível”. Quando “a patologia excede a capacidade de resposta, ou há necessidade de internamento, os doentes são encaminhados para unidades que possuam resposta adequada”.
O presidente da Ulsla diz desconhecer, “objetivamente, as razões sobre a incapacidade de atração de médicos pediatras para a região: “Os concursos têm ficado desertos. Garantimos que não é por falta de esforço, permanente e contínuo, da parte do conselho de administração. Tem havido excelentes condições físicas no HLA para acolher a especialidade, mas não existe disponibilidade de médicos. Sabemos que a nível nacional não há médicos pediatras suficientes, sabemos que a localização territorial da Ulsla não é atrativa para os médicos e que a eventual discriminação positiva remuneratória, que é regulada a nível nacional, não é suficientemente atrativa para atrair profissionais”.
Relativamente à antevisão do futuro da Ulsla, no que diz respeito à capacidade de disponibilização de cuidados pediátricos, Luís Matias diz não poder opinar sobre a questão, por transcender em absoluto a possibilidade de resolução da Ulsla: “Continuaremos a desenvolver todas as ações possíveis para atrair profissionais nesta área, sendo que o êxito desse esforço ultrapassa completamente o poder de decisão desta unidade local de saúde”.